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Sobre NBA e afins

A formação do elenco do Jazz é um exemplo de competência na NBA de hoje

(Troy Taormina-USA TODAY Sports)

Hoje, a impressão que dá é que só é possível formar um time bom de dois modos: juntando uma porrada de estrelas para formar um supertime ou perdendo de propósito por alguns anos seguidos até que consiga reunir vários jogadores pelo draft de calouros. Qualquer outro modo parece estar condenado ao ostracismo, com uma equipe nem muito boa e nem muito ruim. O surpreendente Utah Jazz, que já despachou o estrelado Oklahoma City Thunder e agora engrossa o caldo contra o Houston Rockets é a prova de que as coisas não são bem assim.

O modo como este time se formou, sem apelar para o ‘tank’ e muito menos para o acumulo de free agents craques, é uma aula de paciência e capacidade de garimpo na NBA de hoje. É competência pura. Em nenhum momento o time abriu mão de tentar fazer seu melhor – nos últimos dez anos, só em uma temporada ficou com menos de 30 vitórias – e nunca foi um destino frequente para estrelas – entendo perfeitamente que os melhores jogadores não vejam Salt Lake City como um destino atraente -, logo, montar o time de uma maneira mais clássica do modo mais eficiente possível é uma questão de sobrevivência para o Jazz.

Dos 12 jogadores que entraram em quadra pela equipe nestes playoffs, apenas três foram draftados pela franquia com escolhas que originalmente pertenciam ao Utah. Todos são coadjuvantes do time. São eles Dante Exum, Raulzinho e Alec Burks. De resto, todos os jogadores, incluindo aqui todos os titulares e os três reservas mais usados na rotação, chegaram sem contrato, por trocas cirúrgicas ou escolhas de draft que vieram de outras equipes.

A formação deste time começou lá em 2010, quando o time se antecipou ao declínio de Deron Williams (na época um dos cinco melhores armadores da liga) e o negociou com o New Jersey Nets. Em troca, recebeu Derrick Favors, um jogador que tinha saído nas primeiras escolhas do draft, mas vinha decepcionando no início de carreira. Junto dele, o time conseguiu uma escolha de primeiro round para o ano seguinte, que o time usou para selecionar o pivô Enes Kanter. Três temporadas mais tarde, o time desistiu de Kanter, envolveu o turco em uma negociação tripla que, entre várias coisas, rendeu uma nova escolha de primeiro round que, nesta offseason, foi usada para buscar Ricky Rúbio no Minnesota Timberwolves. Então veja que, quase de graça, sabendo se mexer na hora certa, o time já conseguiu dois dos titulares da atual ótima campanha do mata-mata: Derrick Favors e Ricky Rubio.

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Rudy Gobert, possivelmente o melhor jogador de defesa deste ano, e Donovan Mitchell, junto de Ben Simmons o melhor calouro da temporada, chegaram por escolhas de draft que o Jazz buscou com o Denver Nuggets. O pivô francês, escolhido com a 27ª escolha de 2013, foi adquirido por uma troca que mandou um tal de Erick Green ao Nuggets. Mitchell, pego na 13ª posição deste ano, chegou em troca de Trey Lyles.

Joe Ingles, que acabou com o jogo no segundo confronto com o Houston Rockets, nem draftado foi. Assinou um contrato com o Los Angeles Clippers em 2014, um mês depois foi chutado pelo time e o Jazz o buscou no limbo para se transformar no cara que mais cestas de três fez pela equipe em uma única temporada. O mesmo com Royce O’Neale neste ano: sem contrato, sem ser draftado, o time foi lá e achou o melhor defensor de perímetro possível pro seu elenco.

Por fim, o desempenho de Jae Crowder mostra quem foi o maior vencedor naquela porrada de trocas que o Cleveland Cavaliers fez na data limite de trocas no meio da temporada. Enquanto o time de Lebron James praticamente ‘resetou’ o elenco despachando meio mundo, o Utah Jazz se aproveitou para empurrar Rodney Hood, que vem tendo jogos horrorosos nos playoffs, e assinou com Crowder, que teve partidas excelentes contra o Thunder e lidera o banco da equipe.

Com menor relevância, o elenco ainda tem Jonas Jerebko, que rodou a liga inteira até chegar no Jazz, e Ekpe Udoh, que rodou o planeta, para este ano voltar à NBA.

Vale lembrar que neste meio tempo, o Utah ainda perdeu de graça Paul Millsap e Gordon Hayward, dois all-stars que não renovaram com o time e preferiram se juntar a outros times em determinado momento das suas carreiras. Nem por isso o time decidiu se reconstruir do zero. Buscou, gradativamente, uma reformulação. E conseguiu.

É verdade que o time ainda deva ser considerado o azarão do confronto com o Rockets, apesar de ter roubado o mando de quadra, mas só de estar ali, nas condições que se montou, medindo forças de igual para igual com times com muito mais estrelas e talentos individuais, já dá para dizer que o projeto do Jazz foi um sucesso.

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