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A troca do ano saiu: Spurs manda Kawhi para Toronto por Demar Derozan

A novela mais dramática da NBA nos últimos tempos chegou ao seu final. Depois de uma temporada inteira de idas e vindas, informações desencontradas e tudo mais, o San Antonio Spurs conseguiu dar um fim em Kawhi Leonard. A franquia texana carimbou seu passaporte, fez suas malas em plena madrugada de terça para quarta-feira e o despachou para o outro lado da fronteira. Junto de Danny Green, Kawhi foi negociado para defender a camisa do Toronto Raptors na próxima temporada. Em troca, San Antonio receberá Demar Derozan, o jovem pivô Jakob Poeltl e uma escolha protegida do primeiro round do próximo draft.

A negociação, que já vinha tomando corpo nos últimos dias, chegou aos seus termos mais significativos ao longo da madrugada nos EUA e Canadá. No começo do dia, então, foi feito o acerto dos demais jogadores que seriam envolvidos no negócio.

Diante das circunstâncias todas, acho que o San Antonio se saiu bem. Depois de toda a treta, independente de quem estava certo ou errado, a verdade é que a relação já estava apodrecida. Kawhi não jogaria mais pelo San Antonio Spurs.

Quando esse tipo de coisa fica assim escancarada, a franquia fica em uma situação delicada. Em boa parte das vezes, só recebe propostas ruins em troca. Um caso muito parecido foi o de Vince Carter, quando ainda defendia o Toronto, no início dos anos 2000. Desmotivado, disse que não ia mais jogar pela franquia canadense. O máximo que o time conseguiu foi trocá-lo por um então aposentado Alonzo Mourning – que até voltou a jogar, mas não pelo Raptors.

Em um passado recente, as trocas de Kyrie Irving por Isaiah Thomas (que deu bem errado para o Cleveland Cavaliers) e de Paul George por Victor Oladipo (que por muita sorte e sagacidade deu certo, mas na época parecia super desigual) são bons exemplos do quanto é difícil conseguir algo bom quando se tem um jogador que já manifestou publicamente que quer sair.

O natural seria barganhar algo com Clippers ou Lakers, já que o que se falava era que Kawhi gostaria de jogar em Los Angeles, mas aparentemente as negociações também não foram muito boas e os dois times têm o trunfo de poder tentar o jogador de graça daqui um ano – não funcionou com Paul George, mas…

Eis que, mesmo diante de um cenário bem complicado, aparece o Toronto Raptors e oferece ninguém menos do que Demar Derozan, all-star, all-nba e talvez jogador que teve mais sucesso vestindo a camisa da franquia. Na negociação, ainda conseguiu emplacar um Danny Green decadente no rolo e pegar o jovem Poeltl e uma escolha de draft. Definitivamente, não tinha como conseguir algo melhor.

É questionável, ainda, o quanto o jogo de Derozan vai se encaixar no sistema da equipe. Ele e Lamarcus Aldridge, juntos, tentaram mais chutes de dois pontos de long distância – os mais ineficientes, de acordo com as estatísticas – do que cinco times inteiros da NBA na temporada passada. Kawhi, na melhor forma, era um dos melhores chutadores de fora da liga e Danny Green era outro especialista no fundamento, apesar de não viver seu melhor momento há algum tempo.

Em todo caso, Gregg Popovich ainda é o melhor técnico da NBA até que se prove o contrário. Se ele conseguiu se acertar com Lamarcus mesmo depois de um ano com os dois batendo cabeças, ajustar Derozan não deve ser tão complicado assim.

Para o Toronto Raptors, o movimento todo é bem arriscado. Abre-se mão de um jogador super identificado com o time, com a cidade, que tinha acabado de renovar seu vínculo por mais vários anos para pegar um atleta que hoje ninguém mais sabe como pensa e como vai reagir. Kawhi é um monstro, um dos cinco melhores da NBA inteira, mas é uma incógnita.

Por outro lado, fica claro que o Toronto vai tentar sua última cartada antes de partir para uma reformulação total. Mesmo que tenha Leonard só por uma temporada, a equipe aposta no vácuo existente na conferência Leste depois da saída de Lebron James para tentar superar a barreira psicológica existente e alcançar uma final da NBA. É questionável se o time melhorará de fato, mas sem sombras de dúvidas Kawhi é mais jogador do que Demar.

Se não der certo, ou até mesmo se der e Kawhi mesmo assim quiser sair, é o sinal necessário para, a partir do próximo ano, rifar Serge Ibaka, Kyle Lowry e companhia e apostar de vez na garotada do time, mesmo que isso signifique um bom tempo de jejum dos playoffs – o que, no Leste, é bem difícil de acontecer se você estiver minimamente disposto a tentar vencer.

Quem, aparentemente, saiu perdendo disso tudo são os dois principais jogadores envolvidos. Kawhi, dizem, quer ir para um mercado grande, largar mão do rótulo de jogador low profile e virar uma grande estrela. Mesmo Toronto sendo uma cidade gigantesca, um dos maiores mercados do mundo, o Raptors nunca foi muito hábil em atrair jogadores – a maior contratação de free agent da história da franquia foi José Calderon, para se ter uma ideia. Logo, não me parece que era esse o destino que ele imaginava quando começou a mostrar que queria sair de San Antonio.

Derozan já foi mais enfático. Assim que foi avisado pelo front office, postou nas suas redes sociais que não adiantava ser leal na NBA, já que de uma hora para outra sua lealdade poderia ser trocada por ‘nada’.

Certamente o maior desafio agora tanto de Spurs quanto de Raptors será reconquistar a confiança de suas novas estrelas.

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