Apesar do fracasso nos playoffs, será difícil revolucionar o Raptors

Pedro Brodbeck

(Ken Blaze-USA TODAY Sports)

Eu acreditei que neste ano a coisa poderia ser diferente e quebrei a cara. Não tem como negar, desta vez, que o time do Toronto Raptors decepcionou. Perder para o Cleveland Cavaliers não é o problema, mas dadas as circunstâncias – líder de conferência contra um time que sofreu pra passar do primeiro round -, o 4 a 0 é incontestavelmente uma amarelada feia. Lebron James deitou e rolou, Kevin Love ‘ressuscitou’, JR Smith, Kyle Korver e George Hill reapareceram pro jogo e ninguém do Toronto foi capaz de fazer nada, tanto na defesa, quanto no ataque.

Por mais que eu não ache que tudo que foi feito até agora tem que ser dinamitado e o time precise começar do zero – afinal, foi a melhor campanha da história da franquia em temporada regular, o time vem de três anos vencendo mais do que 50 jogos enquanto nunca tinha feito isso nos seus primeiros 20 anos de existência e finalmente atingiu uma final de conferência neste período – alguma mudança tem que ser feita. Não é tanto uma necessidade técnica, mas moral: o rótulo de ‘pipoqueiros’ está tão associado a este time, que voltar ao mata-mata com o mesmo elenco, mesma comissão técnica e mesmos jogadores, seria de uma pressão insuportável.

Porém, não será tarefa fácil revolucionar a equipe. Praticamente o time inteiro está com contrato engessado para a próxima temporada, o que torna quase impossível alguma mudança sensível de uma hora para outra. Para se ter uma ideia, só a trinca Kyle Lowry (31 milhões), Serge Ibaka (21 milhões) e CJ Miles (8 milhões), que sai destes playoffs super desvalorizada, vai ocupar metade da folha salarial do time pelas próximas duas temporadas.

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Sem poder apelar para jogadores sem contrato, o Raptors dependeria de trocas que, nas circunstâncias atuais, são bem difíceis de se negociar. Kyle Lowry, que é hoje um dos maiores salários da NBA, enfrenta uma concorrência pesada na posição. Por mais que ele ainda seja uma excelente opção, boa parte dos times já tem um bom point guard no elenco. Não imagino muita gente disposta a ir atrás de um cara que seja tão caro, venha de uma série de playoffs tão decepcionante e tenha acabado de bater os 32 anos de idade, faixa em que a maioria dos atletas da posição entra em franco declínio físico e técnico.

Ibaka é outro difícil de passar pra frente. A cada ano que passa, fica menos ameaçador na defesa e desaparece mais no ataque. Jonas Valanciunas, idem: apesar de jovem, suas deficiências defensivas o colocam em uma posição complicada.

A única forma que eu vejo do time mudar o elenco sensivelmente é abrir mão de Demar Derozan. Por mais que não tenha feito uma boa série contra o Cleveland – de novo – ele é uma espécie rara no mercado: shooting guard que sabe finalizar e cadenciar o jogo, tem alguns anos de pico pela frente e teve uma excelente temporada regular. Mas não sei se seria o melhor negócio do mundo abrir mão do melhor jogador do time mantendo todas as outras peças que falharam ultimamente.

Tendo tudo isso em vista, acho que o caminho mais natural da franquia será trocar o comando técnico. Seria a clássica aposta de que novo nome no lugar de Dwayne Casey refrescaria o ambiente. Eu sou um pouco cético quanto a isso. É verdade que Casey falhou bastante no plano tático defensivo do time contra o Cavaliers – insistindo pelo terceiro ano consecutivo em uma marcação individual em Lebron James praticamente sem dobras -, mas não dá para esquecer que ele fez ajustes sensíveis do ano passado para este atacando justamente os maiores problemas do elenco no ano passado.

Nos playoffs de 2017, o time foi eliminado e as principais críticas recaíram sobre a incapacidade da dupla Lowry e Derozan decidir partidas e carregar o time inteiro nas costas. Desta vez, Casey armou um time muito mais solidário e participativo, dividindo as responsabilidades ofensivas e gerando novas opções de criação de jogadas. Não funcionou de volta, mas é provável que esse fosse o limite a ser feito dentro das possibilidades de voltar com o mesmo elenco para esta temporada.

A situação é complicada. Se não mudar nada, a pressão será absurda. Ao mesmo tempo, será muito difícil conseguir mexer em alguma coisa. Não será um ano fácil para o Toronto Raptors.