Clippers e Rockets protagonizam confusão digna de Libertadores

Pedro Brodbeck

(AP)

O staff do Cleveland Cavaliers cortar a água quente do vestiário do Golden State Warriors na partida de ontem parecia o máximo de catimba que um jogo de NBA suportaria. Isso até os minutos finais de uma outra partida, do outro lado do mapa, que fecharia a rodada especial de segunda-feira, que celebrava o dia de Martin Luther King nos Estados Unidos. O confronto entre Los Angeles Clippers e Houston Rockets redefiniu os conceitos de treta na liga americana e deu ares de Libertadores da América para a NBA.

Tudo começou quando os jogadores começaram a se provocar dentro de quadra. O jogo marcava a primeira partida de Chris Paul, agora no Rockets, na casa do seu antigo time, o Clippers. Paul sempre foi marrento. A turma que ficou em LA também não deixa barato e gosta de uma provocação. Blake Griffin e Chris Paul discutiram, Trevor Ariza e Blake também trocaram uns empurrões, o técnico Mike D’Antoni chamou Griffin pra briga, Austin Rivers, que nem estava jogando, mandou Ariza praquele lugar, os árbitros distribuíram faltas técnicas e expulsões… enfim, clima tenso, mas nada fora do normal.

O jogo termina com a vitória do Clippers sobre o Rockets. Os jogadores do Houston, de cabeça quente, resolvem ir até o vestiário do adversário tirar satisfação com Austin Rivers e Blake Griffin. Aí que a história começa de fato. Chris Paul, Gerald Green (que acabou de assinar com o time e já está comprando briga) e James Harden (que nem estava jogando também) foram até a porta do vestiário e, naturalmente, a segurança da arena não deixou o trio entrar para brigar.

Frustrados, eles recuam e Chris Paul, demonstrando que conhece o Staples Center como a palma da sua mão, traça um plano bizarro: mandar Clint Capela, um armário humano de 2,10m, de volta para a porta principal do vestiário do Clippers para DESPISTAR jogadores e segurança local enquanto Paul, Harden e Green davam a volta e entravam por uma PORTA SECRETA nos fundos do vestiário inimigo, procurando por Rivers (que, repito, nem tinha jogado!).

Assim que a turma do Rockets conseguiu entrar no território rival, a treta foi instalada. Não que tenham saído na mão de fato – nenhum report diz isso, pelo menos -, mas a confusão acabou com a Polícia de Los Angeles sendo acionada para conter os ânimos. Enquanto o pessoal se empurrava na entrada secreta, alguém do Clippers fechou a porta na cara de Capela, que sozinho tentava entrar pela porta principal. Sem entender muita coisa, segundo os jornalistas que acompanharam o caso de perto, o suíço voltou pro seu próprio vestiário, tomou banho e foi embora sozinho.

Um detalhe importante nessa história toda: Chris Paul é presidente da associação de jogadores. Ele é o responsável por representar os atletas nas discussões com a liga, com os donos dos times, por brigar pelos seus direitos, etc. Você não espera que um cara que ocupa esse cargo lidere uma invasão ao vestiário rival por uma passagem secreta para tentar surrar o filho do técnico do seu ex-time. Bizarro.

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A história tem um contexto. Na offseason, os dois times fizeram uma mega-troca, mandando Chris Paul para o Rockets em troca de praticamente todo o banco de reservas do time texano. Apesar de Paul ter assinado a renovação e forçado a troca – ao invés de simplesmente ter deixado o time de Los Angeles ao final do seu contrato -, todo mundo saiu meio ressentido do negócio. Paul deixou o time brigado com o técnico Doc Rivers e com boa parte do elenco. Em parte pelo comandante da equipe ter critérios confusos, na sua avaliação, como dar muito tempo de jogo para seu filho, Austin Rivers, em parte porque Paul parece ser mala mesmo. Patrick Beverley, Sam Dekker, Montrezl Harrel foram despachados como moeda de troca e possivelmente não se sentiram bem com o tratamento dado pelo front office do Rockets. Tudo isso, claro, temperou bem a treta da noite.

Longe de mim fazer qualquer apologia à violência – uma máxima no mundo da bola laranja, aliás, diz que, no fundo, esses caras nunca querem brigar de fato, mas só fingir que querem – mas uma rivalidade quente geralmente rende bons confrontos. Não seria uma má ideia um reencontro nos playoffs, né?