Como o pior time da NBA tem a maior sequência de vitórias do Leste?

Pedro Brodbeck

(Dennis Wierzbick/ USA TODAY Sports)

É difícil entender como o time que fez de tudo para entrar na temporada com o pior elenco possível para o momento, que tinha o claro objetivo de ter a pior campanha entre os 30 times da NBA e que faria de tudo para conseguir uma escolha boa de draft no ano que vem esteja agora com cinco vitórias seguidas e registre a maior sequência positiva da conferência Leste do momento. Não era para isso estar acontecendo com o Chicago Bulls. Pelo menos não era o que todos esperavam.

Mas, por mais estranho e contraditório que tudo isso seja, há alguma lógica nisso. E melhor, a sequência indica bons sinais para a franquia. Não é que o time vá se desembestar a ganhar daqui para frente. Não me parece que esse seja o caso. Ainda é muito provável que o time termine a temporada com uma das piores campanhas de toda a liga e vá para o sorteio do draft com boas chances de ficar com uma das três ou quatro primeiras escolhas.

O que me parece mais claro no momento é que os jogadores e a comissão técnica estão, sabiamente, fazendo desta primeira metade da temporada uma espécie de ‘vestibular’ da franquia. Todos os jogadores questionados do elenco sendo desafiados a jogar tudo que podem. Aqueles que melhor entregarem resultados serão agraciados com um lugar no elenco futuro do time ou negociados com outros times em  melhor situação.

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Alguns parecem não ter muita escolha. Kris Dunn, Lauri Markkanen, Denzel Valentine e Zach Lavine (que, lesionado, ainda não estreou) são as apostas atuais para as próximas temporadas e devem, junto com os calouros que chegarão, formar o núcleo do time para o futuro.

Mas os demais, que vivem num limbo de desconfiança, devem ter o poder de escolher: mostram que podem ajudar na missão de reerguer a franquia fazendo parte do time ou jogam o máximo que podem por algumas semanas, inflam suas estatísticas, aparecem para outros times e viram moedas de trocas mais valiosas do que eram até alguns dias atrás.

É o que parece que está para acontecer com Nikola Mirotic, MVP do time nas últimas partidas. Antes da bola subir nesta temporada, o montenegrino naturalizado espanhol saiu na mão com o colega de time Bobby Portis em um treino. A treta foi tensa a ponto de Portis esmurrar o ala caído no chão e mandá-lo para o hospital para construir os ossos da cara. Portis foi suspendo por oito partidas e Mirotic ficou um mês e meio se recuperando da surra.

Diante do mal estar, Mirotic pediu para que trocassem Portis, o que a franquia se recusou a fazer naquele momento. O próprio Nikola não podia ser trocado porque renovou contrato e tem que ficar na equipe até metade de janeiro, pelo menos. Ou ele voltava, ou ficaria encostado um bom tempo. Com uma situação engessada, foi convencido a voltar a jogar.

Por mais que os reports digam que os dois fizeram as pazes, se desculparam  e tudo mais, acho mais provável que o front office tenha feito a cabeça de ambos que, quanto melhor jogassem agora, mais chances teriam de limparem a barra e conseguirem ir para um time melhor em alta – caso um deles fosse negociado logo após o incidente, é provável que o Bulls só conseguisse um troco ruim e mandasse o jogador para um time em baixa, afinal, ninguém quer um problema no vestiário.

O tanto de bolas que Mirotic chutou, o número de rebotes que roubou e as poucas assistências que deu são algumas das pistas que indicam que ele está mais tentando se valorizar individualmente – com a anuência do resto da equipe – do que tentando, de fato, liderar a equipe para uma campanha vitoriosa. Aconteceu que o time deu sorte de jogar bem e vencer.

Para o Chicago, isso é razoavelmente bom. Mesmo que vitórias signifiquem menos bolinhas de ping pong no dia do sorteio do draft, acho que é mais inteligente testar de verdade seus jogadores, desafiá-los a ponto de entender quem aguenta o tranco de levantar a equipe nos próximos anos e, se possível, valorizá-los para conseguir mais escolhas de draft por trocas.

É provável também que o time não mantenha o mesmo fôlego das últimas partidas – foi uma das equipes que menos jogou até agora – e volte a perder naturalmente em breve, mesmo com todo o esforço do seu elenco.

Mesmo assim, ainda acho isso mais saudável do que abrir mão completamente da competitividade. Não que o Chicago tenha feito tudo certo no seu processo de reconstrução a partir do zero – não fez! -, mas a sensação é que o plano está saindo melhor do que a encomenda. Talvez seja essa a melhor maneira de ‘tankar’. O resultado nós veremos ao longo da temporada.