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Porzingis é o presente e o futuro de um Knicks traumatizado pelo passado

(Reuters)

Por mais que a reação de vaiá-lo na noite do draft tenha sido mais um dos exageros típicos da torcida nova-iorquina e que precise ser minimizado, é provável que nem os poucos otimistas daquela época poderiam prever que Kristaps Porzingis seria um jogador tão pronto, decisivo e eficiente tão cedo na sua carreira como jogador do New York Knicks. Depois de dois anos de liga, o ala-pivô letão de 2,21 metros e 22 anos é o segundo jogador que mais faz pontos por jogo em toda a NBA e, mais surpreendente de tudo, mantém o time mais popular de Nova York na parte de cima da tabela, com mais vitórias do que derrotas.

O desempenho absurdo de Porzingis comprova sua capacidade de não ser apenas um projeto de craque para o futuro do Knicks. Diante de tudo que tem jogado, ele é a possibilidade real do time partir já neste ano para os playoffs – algo impensável pra mim para esta temporada.

É verdade que são apenas pouco mais de 10 jogos e que o calendário da equipe não foi dos mais difíceis, mas o time está jogando direitinho. Na conferência Leste de hoje, ter um esquema organizado e um supercraque já te credenciam a, pelo menos, uma vaga entre o quinto e o oitavo lugar.

Porzingis já mostrou que tinha algum talento logo que estreou na liga. Sua mobilidade para um cara que é 6 centímetros mais alto do que Shaquille O’Neal era animadora. A qualidade nos chutes também indicavam o que estava por vir. Mas foi só o tempo de crescerem alguns músculos e colocarem a bola na sua mão exaustivamente – é o jogador mais acionado de toda a liga atualmente -, que logo alcançou outro patamar.

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São 30 pontos por partida e um aproveitamento nos arremessos surreal (55,2%) para quem tem chutado tanto e de tantos cantos diferentes da quadra – neste ano, Porzingis está arremessando, proporcionalmente, muito mais de média distância, alternando com seus já conhecidos ataques dos três pontos e de baixo da cesta. Ainda que não seja um defensor de elite ainda – se perde muito nas trocas, por exemplo – é grande, longo e ágil o suficiente para intimidar o adversário (que acerta 6% a menos dos chutes que faz na sua cara) e é o segundo atleta que mais distribui tocos no campeonato, com 2,3 por partida.

Esse, aliás, é um dos grandes trunfos da polêmica passagem de Phil Jackson pelo comando do front office azul e laranja: o lendário técnico do Bulls e Lakers bancou a escolha de Porzingis na 4ª posição do draft, relevou as vaias, assumiu o risco e agora o time tem um jogador para confiar seu futuro. Exceto pelo Milwaukee Bucks e Giannis Antetokounmpo, não há franquia com um jogador tão talentoso e assertivamente promissor em seu elenco.  Se há alguma dúvida quanto à saúde de Joel Embiid e Ben Simmons, se Karl Anthony Towns ainda não assumiu a liderança do Wolves, se Anthony Davis pode logo se encher o saco e querer sair de um Pelicans insistentemente perdedor, não há certeza de sucesso presente e futuro maior do que Giannis para o Bucks e Porzingis para o Knicks.

Longe de mim já querer comparar os jogadores, mas levando em conta a situação do time e o impacto possível do jogador, o Knicks não via uma cenário como este desde a chegada de Patrick Ewing. Lenda do esporte universitário, o pivô era tão promissor que sua escolha no draft foi cercada de suspeitas quanto à uma possível fraude no sorteio, que teria sido viciado para favorecer o time de Nova York. Bastaram dois anos para que Pat elevasse o poder o Knicks e levasse a equipe a 13 playoffs seguidos (depois foi a um 14º, já sem ele).

Depois disso, o New York Knicks embarcou em uma draga complicada. Apenas quatro jornadas aos playoffs em 17 anos. A franquia passou a apostar em medalhões de procedência duvidosa, que geralmente descobriam que estavam em franco declínio logo após assinarem com a equipe e que se mostravam incapazes de formar um time vencedor por duas ou mais temporadas. Foi assim com Stephon Marbury, Zach Randolph, Amare Stoudemire e Carmelo Anthony.

Boa parte das vezes, torrava suas escolhas de draft para atrair estes caras. O calouro que deu mais certo neste meio tempo foi David Lee, pego na 30ª escolha, mas que também nunca conseguiu fechar uma temporada com mais vitórias do que derrotas.

Até por tudo isso, é de se entender que, em determinado momento, a torcida tenha ficado com um pé atrás com Kristaps. O passado recente dava a entender que a decisão da franquia seria errada – qualquer decisão seria errada, seja ela qual fosse. Escolhas de draft não vinham dando certo e planos ousados de sucesso no longo prazo sempre falhavam. Mas talvez seja a hora de se acostumar com algo diferente. Porzingis não é só o futuro do time, já é o presente.

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