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Lakers quer um time de estrelas e talvez Isaiah já seja a primeira delas

(Jerome Miron-USA TODAY)

Ainda é muito cedo para decretar o quão boa ou ruim a troca entre Los Angeles Lakers e Cleveland Cavaliers pode ter sido para cada um dos times. Mas, se serve de alento para os mais ansiosos, a negociação que mandou Isaiah Thomas, Channing Frye e uma escolha de primeiro round do próximo draft para a California em troca de Jordan Clarkson e Larry Nance Jr deixa bem explícito os planos de cada um dos times. O Cavaliers desistiu de Thomas e buscava talento mais jovem e esforçado para seu banco de reservas, enquanto o Lakers se desfez de dois jogadores que tinham contratos mais longos – e nos quais a franquia não apostava tanto – em troca de atletas com contratos expirantes, que liberam ainda mais a folha salarial da equipe.

Lá por abril, quando acaba a temporada regular, já teremos uma noção melhor do quanto a troca terá funcionado para o Cleveland. Se o time vai chegar mais sólido para a disputa dos playoffs ou não, como era o objetivo da troca para o time.

Já para o Lakers, a espera terá que ser um pouco maior. O time, que quer angariar duas super estrelas dignas de salários máximos – na casa dos 30 milhões de dólares -, já terá condições financeiras para fazer isso nesta offseason ou na próxima, mas o sucesso do plano depende que alguém se interesse pelo projeto da franquia. Aí que começam os nuances que, na minha opinião, podem fazer com que a troca por Isaiah Thomas saia muito melhor do que a encomenda.

A safra de jogadores que têm contratos encerrados nesta temporada não é das melhores. Isaiah Thomas, com todos os problemas físicos, com a falta de ritmo e desempenho ruim nos últimos jogos, é um dos mais talentosos à disposição. Chris Paul e Demarcus Cousins, dois jogadores da mesma grandeza que estarão livres no mercado, vivem situações peculiares: o primeiro está super bem entrosado no time que hoje tem melhores condições de bater o Golden State Warriors – e que pode levá-lo a primeira final de conferência da sua carreira -, o segundo acabou de sofrer uma lesão seríssima, que o tira de ação até o meio da temporada que vem e que já foi responsável por macular a carreira de vários outros jogadores.

Paul George, um nome muito falado em Los Angeles, por ser de lá e por ter sido trocado do Indiana Pacers justamente por ter manifestado sua intenção em assinar com o Lakers em um futuro próximo, tem a opção de encerrar seu contrato agora ou ficar mais um ano no Oklahoma City Thunder. Como o time engrenou com ele por lá e o Lakers não tem a menor chance de montar um time realmente bom de imediato, o mais natural hoje é que George cumpra o último ano do seu vínculo com a equipe e deixe a decisão para se juntar à franquia de Los Angeles para a outra temporada.

Kevin Durant, Carmelo Anthony e Deandre Jordan são outros na mesma situação contratual. Mesmo que saiam dos seus times, dificilmente se interessariam pelo Lakers nas condições atuais.

Ah, sim, tem Lebron James também. Só que o jogador vive uma dinâmica diferente. Ele assina um contrato de um ano por vez, então basicamente todo ano ele é ‘free agent’. A cada fim de temporada ele avalia se o Cleveland está em condições de oferecer a ele um time competitivo. Caso um dia isso não aconteça, ele ameaça partir para um novo time com mais chances de título. O Lakers, apesar de sonhar com o jogador, sabe que não tem cacife para isso agora, tanto é que assumidamente já adiou o plano de tentar recrutá-lo para mais pra frente, em outro ano.

A grosso modo, Magic Johnson e Rob Pelinka, executivos que comandam a franquia hoje, terão um caminhão de dinheiro já à disposição neste ano mas pouca gente realmente boa para contratar. O mais sensato seria, então, continuar com o plano de dar tempo de jogo, rodagem e bagagem para os moleques do time – Lonzo Ball, Brandon Ingram, Julius Randle, principalmente, foram escolhidos em posições nobres do draft e parecem ter talento -, assinar com alguns jogadores medianos para testar quem pode ficar para o ano seguinte sem comprometer a folha e partir para o ataque aos jogadores sem contrato no outro ano.

Acontece que pelas regras da NBA, um time não pode ficar muito abaixo do teto de gastos com salários. Se hoje a liga permite que uma franquia pague cerca de 100 milhões anuais de dólares ao seu elenco sem pagar multas, ela também exige de os salários totais dos jogadores somem pelo menos 90 milhões. É por isso que alguns times que estão com o objetivo de no futuro ter muito espaço para contratar estrelas acabam assinando jogadores medianos por contratos de um ano no valor máximo ou próximo dele. O Lakers mesmo nesta temporada despejou 17 milhões para Kentavious Caldwell-Pope, um valor muito acima do que o mercado estava disposto a pagar por ele, para garantir que chegaria na faixa exigida de gastos.

Bom, com muito dinheiro à disposição e pouca gente no mercado, acho bem plausível que o time aposte em Isaiah Thomas, pelo menos por um ano. Se é para gastar com alguém, que seja em um jogador que já demonstrou talento recentemente. Por mais que muita gente na liga não confie em Thomas, que sua moral esteja ainda mais abalada pela passagem em Cleveland, há menos de um ano ele foi eleito para uma das três seleções do final da temporada e ficou em quinto na corrida para MVP do campeonato.

Por mais que a falta de defesa seja uma problema real e a lesão que teve possa despertar preocupação, Thomas é um craque. Tivesse seu contrato expirado ano passado ou retrasado, ele teria assinado pelo máximo, por muitos anos, com alguma equipe da liga. Antes disso, teria sido disputado por várias delas. Para o Lakers, ter Thomas nestas condições é uma oportunidade de ouro para segurar uma super estrela em seu elenco.

Digamos que Thomas termine o ano na mesma pegada que a atual – o que é muito provável -, uma renovação pelo máximo, mesmo que por um ano apenas, com o Lakers seria interessante para as duas partes. Nas atuais condições, o jogador não parece que vá ter muitos pretendentes dispostos a vincular um caminhão de dinheiro em uma aposta incerta. O Lakers, por sua vez, tem essa possibilidade. Serviria como um teste para os dois: se Isaiah for bem, se habilita para um contrato maior, nas mesmas dimensões; se o Lakers for bem com ele, naturalmente terá mais cacife para atrair outros bons jogadores interessados em um time bom e com perspectiva de sucesso no futuro. Mesmo que Thomas continue ganhando perto do máximo, a franquia teria grana para conseguir mais um jogador do mesmo calibre.

O que poderia ser um empecilho para Isaiah é o fato de Lonzo Ball ser uma aposta de futuro para o time. No entanto, toda essa situação hipotética conta com os atenuantes que a posição de armador está inchada na liga – o que faz com que qualquer point guard tenha concorrência pesada no time que for – e que usar Ball na posição de shooting guard é um teste já cogitado em Los Angeles – e não seria absurdo imaginar que, já que a próxima temporada ainda será de experimentos, que um deles seja usar Thomas e Ball juntos.

É tudo suposição, mas se o plano do Lakers é ter estrelas em um futuro próximo a chegada de Thomas é uma oportunidade de garantir um dos melhores jogadores da NBA em seu elenco desde já, caso ele retome seu ‘mojo’. Se não, será uma experiência que pode ser resetada daqui um ano, quando o time pretende buscar outros jogadores.

 

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