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Mesmo sem esquema tático, Thunder ganha corpo com tempo e talento

(Brandon Dill/Associated Press)

Finalmente o Oklahoma City Thunder emplacou uma sequência digna do seu elenco estrelado. São cinco vitórias consecutivas e o salto da nona para a quinta colocação na conferência Oeste. Os resultados começaram a aparecer mesmo com o time insistindo nas jogadas individuais. No final das contas, aparentemente, o problema do time não é não ter um esquema que comporte Russell Westbrook, Paul George e Carmelo Anthony, mas a falta de tempo para que os três aprendam intuitivamente a jogar juntos.

Analisar as estatísticas do Thunder é quase como colocar em números o estilo de jogo da isolação – quando um jogador bate bola em um lado da quadra e todos os companheiros correm para o outro, forçando um confronto 1×1 contra o defensor até a finalização da jogada. É o segundo time que menos passa a bola, é a quinta equipe mais lenta da NBA e o terceiro que mais chuta bolas de dois pontos de longa distância.

A princípio, a cartilha do basquete jogado na liga nos últimos anos diz que todos estes são hábitos pouco eficientes. O problema não é fazer uma ou outra coisa – afinal não existe um único jeito de jogar basquete -, mas se for fazer todas elas (jogo lento, individual e com chutes pouco inteligentes), o talento individual terá que compensar noite após noite.

O Houston Rockets é o time que menos passa a bola na NBA, mas eles compensam isso acelerando o jogo em determinados momentos (menos tempo de posse de bola, menos passes) e chutando a bola das duas zonas mais produtivas da quadra, de baixo da cesta ou dos três pontos. James Harden também é o jogador que mais faz jogadas de isolação em toda a liga, mas o Rockets usa isso para concentrar a marcação, quebrar a defesa e distribuir passes para os chutadores bem posicionados ao redor do arco de três pontos.

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O San Antonio Spurs, por sua vez, é um dos times mais lentos da liga e que mais arremessa bolas longas de dois pontos. Mas compensa isso passando a bola freneticamente entre seus jogadores até que alguém surja livre para chutar.

Fugindo um pouco dos números e partindo para o chamado ‘eye test’, a impressão que dá é que o Thunder até se esforça para distribuir a bola, rodar o jogo e envolver todo mundo no ataque. Mas isso dura os primeiros cinco minutos de partida. Depois que os titulares saem de quadra para descansar e voltam ao jogo, é cada um por si e quem estiver melhor, chuta. Por mais que isso contrarie a forma que os times mais competitivos jogam hoje em dia, não acho que é necessariamente errado.

Mesmo na recente série de vitórias, o Thunder continuou chutando de longa distância, continuou como um dos times que menos passa a bola e abusou das jogadas individuais. Se é isso que vai funcionar com o George, Carmelo e Westbrook, que seja assim.

Por mais que eu ache que Westbrook tome muitas decisões erradas ao longo da partida e que Billy Donovan não seja nenhum gênio, é preciso fazer algumas ressalvas antes de culpá-los. O time do Thunder sempre jogou assim, desde que Harden e Durant estavam na franquia e o técnico era outro. A equipe até chegou a uma final da NBA sem ter um playbook dos mais elaborados. Donovan, quando contratado, já tinha passado por dificuldades parecidos comandando a Universidade da Florida (salvo quando foi bicampeão com um time que tinha três jogadores da NBA, seu ataque era previsível e a defesa seu ponto forte).

Times com muitas estrelas tendem a jogar de forma mais individualizada mesmo. São raros os casos em que a formação tática se sobressai – Lebron James, Chris Bosh e Stephen Curry são anormais por justamente entenderem que podem abrir mão de algumas em nome de um esquema coletivo. E mesmo assim, o talento geralmente prevalece.

O ponto aqui é que, mesmo sem um esquema coletivo, mesmo apostando na individualidade dos seus jogadores, o OKC tem bala na agulha para ficar entre os quatro ou cinco primeiros da conferência e chegar aos playoffs como um time competitivo. Mais do que obrigar Carmelo Anthony e Paul George a fazerem algo que nunca fizeram, o Thunder precisa (ou precisava) de tempo – lembrando que Carmelo desembarcou em Oklahoma menos de um mês antes do início da temporada regular.

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