Mitchell é espetacular, mas Simmons ainda é o melhor calouro do ano

Pedro Brodbeck

(Bill Streicher-USA TODAY Sports)

Não existe ninguém que goste de basquete e não esteja fascinado por Donovan Mitchell. O armador calouro do Utah Jazz é tudo que faz o basquete ser um esporte tão legal de se acompanhar: parece ser capaz de fazer cestas de qualquer ponto da quadra, tem uma explosão impressionante e é atlético o suficiente para dar algumas das melhores enterradas da temporada. Além disso, tem sido o motor da campanha de recuperação do seu time na busca por uma vaga nos playoffs.

Guardadas as devidas proporções, vejo nele um pouco do impacto que Dwyane Wade teve no Miami Heat quando se tornou profissional. Chegou a um time jovem, com alguns bons talentos e se tornou a válvula de escape que a equipe precisava para ganhar os jogos mais parelhos. Deu a empolgação que a franquia precisava e a recolocou nos playoffs. Mais ou menos o que aconteceu com Jazz e Mitchell – sem comparar a qualidade de ambos, já que Donovan é apenas um calouro e Dwyane foi um dos melhores da posição (mesmo que os números de calouro de Mitchell sejam melhores), apenas relacionando o impacto de cada um no seu time logo no primeiro ano.

O Utah perdeu seu principal jogador dos últimos anos, Gordon Hayward, para o Boston Celtics. Também não pode contar mais com George Hill, armador que, mesmo sem fazer alarde, foi um dos maiores responsáveis pela excelente campanha do ano passado. Totalmente renovada, a equipe tinha boas opções no elenco, mas tudo parecia meio pasteurizado demais, sem algo de especial para brigar na selvageria do Oeste. Mitchell, pontuador agressivo, foi o fiel da balança para fazer o time brigar mesmo com meio time lesionado.

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Apesar disso tudo, Mitchell tem o azar de concorrer com um cara que está um nível acima. Que é tão bom, que a gente chega a esquecer que ele é um calouro. Mitchell é espetacular, excelente, mas Ben Simmons, do Philadelphia 76ers, é surreal.

Não só as médias absurdas que ele vem registrando são suficientes para colocá-lo como favorito ao título de Calouro do Ano – os 16 pontos, 7 rebotes e 7 assistências na temporada de estreia são números que só Oscar Robertson e Magic Johnson conseguiram também -, mas seu impacto é até mais impressionante que o de Mitchell.

O Sixers do ano passado já era empolgante, já tinha Joel Embiid, já estava bem melhor montado do que nos anos anteriores, e mesmo assim fechou a temporada com 28 vitórias e 54 derrotas. Com a chegada de Simmons, o Philadelphia se transformou em um time de playoffs. Já chegou às 30 vitórias antes da pausa para o All Star Game e pela primeira vez em vários ano mantém uma campanha acima dos 50% de aproveitamento.

Para mim, é uma disputa até injusta. Mitchell, Jayson Tatum, Kyle Kuzma e companhia são excelentes calouros. Simmons já extrapolou essa régua. Parece que está na liga há anos, já está na discussão para ser all star, mostra uma maturidade para ser o jogador que carregará a franquia por anos. Já vive um patamar diferente dos seus colegas.

Eu entendo os pormenores da discussão. Ben Simmons tem ao seu lado outro jovem que parece tão bom quanto, Joel Embiid. Mas Simmons ainda é o líder em ‘win shares’, estatística que tenta calcular o número de vitórias que cada atleta do elenco adicionou ao time naquela temporada. Além de que o elenco ao redor de Mitchell também não é de se jogar fora – Joe Ingles vem em um ano excelente, Rudy Gobert é um dos melhores defensores da NBA, Ricky Rubio é um excelente armador.

Acho que a principal ponderação a ser feita é o fato do jogador do Sixers ter passado uma temporada inteira treinando com o time antes de estrear. Isso com certeza faz uma diferença brutal no desenvolvimento físico e tático do jogador. Mas, até o momento, a regra permite que jogadores que perderam a temporada de estreia inteira por lesão possam concorrer ao prêmio de melhor calouro no ano seguinte.

E independente do prêmio, o Utah Jazz já saiu por cima neste draft. Pegou Mitchell com a 13ª escolha em uma classe super badalada e o colocou na discussão de melhor calouro da temporada, quilômetros de distância à frente de Markelle Fultz, Lonzo Ball, Josh Jackson, D’Aaron Fox e companhia. O mesmo dá para falar de Tatum e Kuzma, outros dois jogadores que frequentemente entram na discussão.

Mas, ainda assim, Ben Simmons é disparado o melhor jogador a ter estreado na NBA neste ano.