Contra prognósticos, seria New Orleans Pelicans um time melhor sem Cousins?

Pedro Brodbeck

(Derick E. Hingle-USA TODAY Sports )

A temporada do New Orleans Pelicans parecia condenada quando Demarcus Cousins saiu de quadra amparado pelos seus colegas com uma ruptura no tendão de Aquiles. A conferência Oeste é de uma competitividade brutal e o elenco do time do estado de Louisiana era um dos mais enxutos dos times que disputavam uma das oito vagas nos playoffs. Perder Cousins significava perder praticamente metade de todo o seu talento em uma corrida que exige mais do que talento, mas muito fôlego.

Mas, por mais que a impressão inicial tenha se confirmado nas primeiras partidas sem o pivô, quando o time perdeu cinco de seis jogos, hoje essa lógica parece ser questionável: a equipe engatou oito vitórias seguidas e já ocupa a quarta colocação no Oeste, o que confere ao time o mando de quadra no primeiro confronto dos playoffs.

Seria, contra todos os prognósticos, o New Orleans Pelicans um time melhor sem Demarcus Cousins? Não e sim.

Não é um time melhor porque o talento bruto de Demarcus Cousins é algo raro na liga. O jogador foi responsável por um punhado de vitórias da equipe ao longo das 48 rodadas em que esteve em quadra pelo Pelicans nesta temporada. Há que se lembrar que nos primeiros 40 dias de campeonato, ainda em outubro e novembro, Cousins estava fenomenal, com números que o colocavam entre os cinco primeiros na corrida de MVP e o Pelicans atingiu as 11 vitórias em 19 jogos – uma marca que não é tão boa quanto a atual, mas suficiente para colocar o time em uma situação confortável na conferência.

+ Quando uma encarada é a melhor jogada de toda a temporada

+ Felizes são aqueles que não sofreram com lesões nesta temporada

Mas, por outro lado, sim, o time realmente melhorou em vários aspectos desde que ele saiu da rotação. Ao meu ver, por dois motivos – um deles não tem nada a ver com a saída de Demarcus do time e outro é questionável. Vamos um a um.

Primeiramente o time se reforçou. O Nola foi ao mercado e pegou Nikola Mirotic do Chicago Bulls. O montenegrino naturalizado espanhol não é nenhum craque, mas é um jogador com algumas qualidades bem específicas que faltavam ao Pelicans: a sua capacidade de achar arremessos e de se posicionar bem nas laterais da quadra combina bem com o estilo de jogo de Rajon Rondo e abre espaços para Anthony Davis partir para dentro do garrafão. Mirotic pode não estar sendo super eficiente nos seus chutes, mas tem colaborado para o esquema geral da equipe. Sua campanha com a franquia é de excelentes 8 vitórias e 3 derrotas.

Neste período também Anthony Davis passou a jogar o melhor basquete da sua vida. Se o ala-pivô já era um absurdo há algumas temporadas, no último mês ele passou a ter um desempenho digno de MVP. Nas 14 partidas sem o colega de garrafão, Davis tem registrado médias de 32 pontos, 13 rebotes, 2,4 tocos e iguais 2,4 roubadas de bola por jogo. Ele passou a atacar mais agressivamente a defesa adversária, arremessar muito mais (20% a mais do que na média da temporada), segurar e centralizar o jogo. Uma tática que deu certo, uma vez que ele é muito móvel para o seu tamanho, o que faz com que ele tenha uma vantagem perante os seus defensores.

E isso pode ter alguma coisa a ver com a lesão de Cousins. Sem o pivô, Davis teve que assumir a responsabilidade e partir para o tudo ou nada. O número de vezes que ele recebe a bola e define as jogadas aumentou (antes era em 27% das vezes, agora faz isso em 34%). Antes, era Cousins que fazia esse tipo de coisa com mais frequência, enquanto Davis abria mão de alguns ataques para abrir espaço para o colega, rodar a bola, dar um passe a mais. Agora, é Davis que parte para dentro e carrega a bola até o arremesso – exemplo disso é que o time tem trocado menos passes, dado menos assistências, mas, curiosamente, tem sido mais eficiente na decisão das jogadas.

Isso até serve como um alerta para alguns hábitos nada eficientes de Demarcus Cousins, que agora ficam mais evidentes. Sair carregando a bola desde a defesa, tentar vários passes que atravessam a quadra e bater bola como um armador dentro do garrafão alheio são coisas que podem funcionar às vezes, mas via de regra não vão ajudar o time a ganhar. Claro que estes cacoetes não são suficientes para que possamos decretar que Cousins fazia mal ao time, mas que algumas das suas decisões em quadra não eram das mais inteligentes – e podiam prejudicar, em parte, Anthony Davis.

Ainda assim, eu coloco esse crescimento de desempenho do camisa 23 mais na conta da sua habilidade brutal do que na saída de Cousins. O time pode ter melhorado, mas provavelmente seria ainda mais forte se ainda contasse com Cousins, mesmo que às vezes pareça que não. Se o time aproveitar esta ausência para encontrar uma maneira mais eficiente de jogar e encaixar o pivô quando ele voltar – daqui um ano -, pode ser ainda melhor. Pode ser que, finalmente, seja um time à altura do talento dos dois.