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O raro ano em que o San Antonio Spurs foi só mais um, com problemas comuns

(Justin Ford-USA TODAY Sports)

Amigo leitor, hoje vivemos um dia especial! Pode parecer só mais uma quinta-feira qualquer, só mais um dia corrido no trabalho, só mais um daqueles dias que vão se arrastar antes de chegar a sexta-feira. Não é. Hoje, como poucos dias nos últimos vinte anos, o San Antonio Spurs está fora da zona de classificação para os playoffs.

Tudo bem, está empatado com o Utah Jazz, perde apenas no critério de desempate e se vencer o New Orleans Pelicans fora de casa já pode mudar o cenário. Mas saiba que você está vendo a história passar diante dos teus olhos.

Brincadeiras e exageros à parte, o San Antonio Spurs vive uma temporada bastante atípica para a sua realidade. Em três décadas inteiras de basquete, a franquia texana só terminou duas vezes fora do mata-mata: em 1988, quando o time vivia sua última fase ruim e esperava que David Robinson terminasse seu tempo de serviço nas Forças Armadas, e em 1997, um ano em que Robinson passou quase que a temporada inteira machucado, o resto do elenco estava velho e o time, depois de um tempo, se esforçou para perder o máximo possível e conseguir Tim Duncan no draft seguinte – e conseguiu!

As estatísticas depois que Duncan entrou no time, juntamente com a efetivação de Gregg Popovich como técnico da equipe, são mais impressionantes ainda. Nunca o Spurs teve uma campanha com menos de 64% de aproveitamento. Em apenas um ano venceu menos de 50 jogos, e isso só porque em 1999 o locaute fez com que a temporada tivesse 32 partidas a menos – e teve 50 vitórias até em outro ano de paralisação, em que a temporada toda teve 66 jogos.

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Disse isso tudo para mostrar que, mesmo que, mesmo que ainda esteja no páreo para ir para os playoffs, pela primeira vez em muitos anos o San Antonio Spurs vive uma temporada comum, como de outro time qualquer. São 38 vitórias e 30 derrotas, 56% de aproveitamento, e um time que, sem Kawhi Leonard, não consegue se destacar perante os demais.

Exceto pela presença de Lamarcus Aldridge, que vem tendo um excelente ano e garantido alguma competitividade à franquia, o elenco do Spurs vive uma transição muito marcante. Há um grupo muito experiente, que já faz hora extra na liga, e um grupo muito jovem, que busca ainda afirmação. Os mais velhos, apesar de terem sido jogadores espetaculares, não têm mais gás para recolocar a equipe em sua rota tradicional. Os jovens têm suas qualidades, mas ainda não foram carimbados com o selo de qualidade da franquia.

Enfim, o San Antonio Spurs vem tendo problemas comuns aos seus rivais, mas pelos quais não passava há décadas.

A tarefa de tentar reverter o cenário ainda neste ano é muito difícil. As notícias sobre a eminente volta de Kawhi Leonard não são muito claras, o jogador vem de uma lesão série e deve estar com um ritmo de jogo bem comprometido e os rivais diretos estão em melhor fase.

O time também não está em uma posição em que seja possível largar mão de tudo e perder de propósito os jogos finais para subir no draft. A 14 rodadas do fim, San Antonio está muito distante do pelotão que está tankando há semanas. Na pior/melhor das hipóteses, poderia brigar pela 13ª pior campanha, o que rende os ínfimos 0,7% de chance de conseguir a primeira escolha.

Por mais que para efeitos de legado tentar ir para os playoffs e não conseguir seja uma estratégia hoje considerada ruim – uma vez que você nem tem chances de vencer e nem garante boas condições de conseguir talentos para o draft -, o histórico do Spurs indica que ter uma temporada mediana é só uma fase.

Se tudo correr conforme o previsto, o time terá um dos melhores jogadores da atualidade de volta ao elenco na próxima temporada, tem todas as condições de pegar algum calouro útil (sempre fez isso com as últimas posições da primeira rodada do draft) e a cultura vencedora da franquia tem sido suficiente para atrair jogadores com algum talento na offseason.

A dinastia do Spurs não acabou, mas passa por um hiato incomum. Que os rivais aproveitem, pois tudo também indica que essa fase deve passar.

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