Passada a euforia, Detroit tem que aprender a jogar com Griffin

Pedro Brodbeck

(USA Today Sports)

Acho sem noção pensar que a chegada de um jogador como Blake Griffin não seja benéfica para o Detroit Pistons. Por mais que a equipe tenha se desfeito de alguns jogadores importantes e que vinham tendo boas performances, não se abre mão de um cara do quilate de Griffin. Não é por acaso que ele recebeu um dos maiores contratos da liga ao final da temporada passada e que era um dos maiores alvos entre os agentes livres.

Mas passa a empolgação inicial que fez o time ganhar os quatro primeiros jogos desde a troca que levou Griffin para Michigan e despachou Avery Bradley, Tobias Harris e Boban Marjanovic, é hora do Detroit Pistons repensar seu jogo para o restante de temporada. Mesmo com uma necessidade urgente de vitórias para tentar beliscar a última vaga nos playoffs, a equipe perdeu as últimas três partidas e viu dois times completamente diferentes quando Blake estava em quadra e quando ia para o banco.

Sem ele, era o time de Andre Drummond como pilar do time. Recuperando a posse de bola em quase todas as bolas na defesa com rebotes e brigando no ataque para retomas os arremessos perdidos pelo esquadrão de chutadores meia-boca que o cerca agora. Um time sem muito talento, mas cadenciado, jogando com quatro jogadores abertos – como manda a escola de Stan Van Gundy desde os tempos de Orlando Magic – que movimentam a bola até que ela encontre o jogador melhor posicionado ou um espaço no garrafão.

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Com Blake, se viu um time absolutamente comandado por ele, de uma ponta da quadra a outra. Era ele chamando as jogadas no perímetro, ele distribuindo os passes, batendo bola interminavelmente ou finalizando o pick and roll na ponta do garrafão. Na falta de armadores mais inteligentes – não que seja brilhante, mas o mais iluminado deles, Reggie Jackson, ainda está de molho – Blake tem feito as vezes de Lebron James no Pistons.

O problema nem é que ele comande absolutamente todo o ataque do time como se fosse um point guard, mas que o time não tem acompanhando o seu estilo de jogo. O aproveitamento dos chutes de fora, com jogadas mais verticais e menos dinâmicas, despencou do 5º para o 18º lugar na liga. O ritmo de jogo era o 19º entre todas as equipes e com Blake pulou para a 8ª. O número de arremessos a cada 100 posses de bola também caiu drasticamente. Era o 2º time que mais chutava nesta métrica e nas últimas sete partidas se tornou o 15º.

Tudo isso porque Blake é o típico cara que recupera a bola na defesa e, se puder, parte direto para a cesta adversária – o que faz aumentar a velocidade do time, faz cair o número de arremessos totais de quadra com mais faltas cavadas e tende a fazer o time chutar menos de três em boas oportunidades criadas a partir de troca de passes.

Não acho que seja o caso de fazer o ala jogar de um modo diferente. Lembro que no começo da temporada Gregg Popovich, melhor técnico da NBA disparado, disse que seu maior erro na temporada passada foi tentar reensinar Lamarcus Aldridge a jogar basquete. Aos 30 anos, o jogador já tinha todos seus vícios muito bem formados. Era impossível mudar. E o San Antonio Spurs tinha o contratado justamente pelas virtudes que tinha apresentado antes de jogar com Popovich. Logo, cabia ao técnico saber moldar o esquema combinando seu jogo e o de seus colegas.

Acho que é mais ou menos isso que deve acontecer em Detroit. Especialmente porque o elenco atual do Pistons, exceto por Drummond e Griffin, não é nada especial. Vale muito mais a pena encontrar uma maneira daquela turma toda ajudar os dois do que correr o risco de apagar as virtudes de um deles – como a agressividade, objetividade e mobilidade de Blake.

Mas esse é um trabalho que toma tempo. Tempo que o Pistons não tem agora. Talvez só vejamos o melhor deste casamento a partir do próximo ano mesmo.