Dois Dribles

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Quando uma encarada é a melhor jogada de toda a temporada

(Reprodução)

Não quero fazer aqui nenhuma apologia criminosa, mas acho que não existe momento mais empolgante em um jogo do que um drible desrespeitosamente desconcertante, do que uma jogada tão absurdamente humilhante que o adversário, em uma fração de segundos, pensa que preferiria estar em qualquer lugar degradante do planeta que não fosse ali, no chão, tentando entender o que está acontecendo.

Ontem James Harden, do Houston Rockets, e Wesley Johnson, ala do Los Angeles Clippers, protagonizaram um destes momentos. Ainda no primeiro quarto de partida Harden carregou a bola com seu usual falso-ímpeto na altura da linha de três pontos. Johnson, um marcador dedicado, se posicionou na suposta rota do armador adversário, com o peito estufado, com o objetivo de frustrar o ataque do rival. Harden mandou o seu clássico passo como quem faz que vai e não vai e, mais esforçado do que deveria, Johnson caiu na pegadinha do barbudo. Para piorar, como é próprio dos marcadores azarados, descoordenados e muito disciplinados, a cabeça dele mandou o tronco ir para um lado e o pé para o outro, fazendo com que o jogador do Clippers se esborrachasse no chão.

O problema não foi só esse. Por mais que sempre seja lindo, driblar e fazer o adversário cair de boca na quadra não é dos movimentos mais raros do jogo. Acontece que ontem Harden foi espetacularmente boçal a ponto de esperar alguns centésimos de segundo para observar atentamente Johnson cair de bunda no chão, repensar seu papel no basquete profissional, meio que desistir de se levantar e, depois equivocadamente achar que isso seria menos humilhante, tentar voltar a marcar Harden para contestar seu chute.

O camisa 13 do Houston observou tudo atentamente e, assim que Johnson tentou se recompor, arremessou para fazer a cesta de três. Por sorte ou genialidade, o único movimento de Harden naquele segundo em que Wes tentava se recompor foi um milimétrico movimento no pé esquerdo que assegurou que a cesta valeria três pontos e não dois.

O melhor da jogada, e que faz ela ser diferente das demais, é o olhar que o Barba fixou em Johnson no chão. Por mais que seja impossível não desviar o olhar para Wesley caído, a encarada do armador faz com que todas as pessoas tenham tempo e curiosidade para observar o rival rolando na quadra.

O contexto e a sequência dos fatos também são de um cinismo impressionante. A jogada seria uma das últimas do período, o jogo estava 28 a 7 e Johnson nem precisaria se esforçar tanto assim para segurar o adversário. Fosse o contrário e fosse o ala do Clippers capaz de fazer um drible tão desconcertante quanto, a displicência de Harden na defesa jamais o levaria ao chão. Wesley acabou pagando com toda a sua dignidade por ser dedicado de mais quando seu time nem tinha muito mais o que fazer. Talvez seja uma lição cretina de vida.

Em todo caso, apesar dos pesares, foi daquelas jogadas que serão lembradas por muito tempo. Uma humilhação dessas é difícil de esquecer.

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