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Se é ruim pensar no futuro com Kevin Love, pior seria sem ele

É muito difícil imaginar que o Kevin Love de agora em diante seja o mesmo cara que tentava carregar sozinho, em condições mais ou menos parecidas, o Minnesota Timberwolves de dez anos atrás. Por mais que o ala tenha saído do time do Meio-Oeste americano como um dos grandes talentos individuais da liga naquele momento, a sua passagem pelo Cleveland Cavaliers sempre foi marcada pela dificuldade em reassumir o protagonismo esperado – o que, entendo, era difícil de fazer com Lebron James e Kyrie Irving ao lado. Agora, mesmo sozinho, mas depois de um período de mais baixos do que altos, não parece que Love vai retomar o cacife necessário para manter a equipe brigando pelo título do Leste.

Muita gente achou sem sentido a renovação de contrato entre jogador e franquia pelos próximos quatro anos, com possibilidade de mais um quinto ano, por 120 milhões de dólares. Eu concordo que não é o melhor dos cenários. Por mais que lá atrás Kevin Love tenha emplacado números monstruosos quando jogou sendo o macho-alfa de um elenco, ele nunca foi capaz, nestas condições, de levar sua equipe a um retumbante sucesso coletivo. Mesmo assim, tenho certeza que é melhor assim do que sem ele.

Parto de um princípio básico de descrença total com a estratégia do ‘tank’, em que os times fazem de tudo para ter a pior campanha possível para conseguir as melhores chances de pegar uma escolha alta de draft no futuro. O caso recente do Philadelphia 76ers ilude muita gente, como se esse fosse o caminho mais certeiro do sucesso, mas vale lembrar, de modo bem simplista, que o favoritíssimo ao título do ano que vem montou um elenco imbatível sem esse recurso e que os azarões Houston Rockets e Boston Celtics também montaram times muito fortes sem apelar para isso.

Além da prática ser absurdamente nefasta para a competitividade da liga e para o engajamento da torcida (imagine passar a sua infância inteira tendo que ver o time perder de propósito?), é ineficiente no atacado. Um exemplo aqui e acolá de sucesso não justifica a adesão em massa. E abrir mão de Kevin Love a essa altura, sem Lebron James, e com um monte de contratos pesados no elenco, seria assumir o ‘tank’.

E por mais que Love tenha todos os defeitos já citados, ele ainda é um jogador acima da média. Ele pode não ser um cara que vá carregar seu time ao título, mas ainda é um dos melhores na posição, com mais recursos ofensivos (aliás, quantos jogadores hoje são capazes de levarem seus times ao topo da tabela sozinhos?).

Com o que tem à disposição hoje, o Cleveland Cavaliers é um time de playoffs na sua conferência – e muito por conta da presença de Kevin Love. Com vários contratos expirantes para daqui dois anos, a equipe pode muito bem trabalhar para mostrar que tem um time sólido mesmo sem outras grandes estrelas e, daí sim, quando tiver espaço, atrair colegas da mesma grandeza de Love para o elenco.

Até lá, tentar brigar como der nos playoffs. Um cenário muito melhor do que perder de propósito, abrir mão de um dos jogadores mais importantes do único título da história do time e não ter qualquer garantia de sucesso nos drafts deste período.

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