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Sobre NBA e afins

Se tudo der certo para os Raptors nos playoffs, eles estarão preparados?

(Jeff Hanisch-USA TODAY Sports )

A temporada nem tinha começado e todo mundo já sabia que era quase impossível alguém fazer frente ao Golden State Warriors. A menos que algum time reinventasse o jogo, que alguém invocasse poderes paranormais ou que meio elenco do atual campeão se quebrasse, o título de 2018 fatalmente terminaria nas mãos de Stephen Curry, Kevin Durant e companhia.

A final também já estava definida: mais uma vez o Cleveland Cavaliers, liderado por Lebron James, agora com os reforços de um banco mais completo, com Dwyane Wade, Derrick Rose e outros recém chegados, faria a quarta final consecutiva contra os californianos.

Ao Toronto Raptors, o máximo que o destino reservava era mais uma boa campanha de temporada regular e a eliminação nos playoffs, na melhor das hipóteses, para um dos favoritos do Leste. Em condições normais, o time poderia até cair antes, com Demar Derozan ou Kyle Lowry amarelando contra um rival mais fraco.

Acontece que o desfecho das coisas nem sempre segue o roteiro que a gente cria na cabeça antes delas acontecerem – que bom! O Golden State Warriors hoje tem um rival à altura no Houston Rockets, o Boston Celtics, mesmo desmantelado, vem nadando de braçadas na frente do Cleveland Cavaliers desde o começo do campeonato e o Toronto Raptors está muito bem encaminhado para ter a melhor campanha do Leste.

Nas condições atuais, o Toronto Raptors teria um caminho relativamente mais simples até a final de conferência, com Cavaliers e Celtics se enfrentando em uma eventual semifinal do Leste. Simulando o mais óbvio, enfrentaria um dos dois com a vantagem do mando de quadra. Passando pelo rival, chegaria á finalíssima da NBA e só não teria a vantagem de jogar quatro dos sete jogos em casa contra o Houston Rockets – hoje está empatado com o poderosíssimo Golden State Warriors.

Mas tudo isso é possível? É provável? Ou o time vai ‘afinar’ de volta?

Responder categoricamente qualquer uma destas perguntas é um exercício profundo de futurologia, mas o desempenho recente da equipe, a forma como tem jogado e as atuações de alguns de seus jogadores dão alguns indícios de que, se tudo der certo – como vem dando -, o final de temporada do time canadense tem chances de ser surpreendentemente bom.

Para começo de conversa, vários jogadores do Raptors vêm tendo as melhores atuações dos últimos tempos. Jonas Valanciunas finalmente parece o pivô que prometia ser quando entrou na liga – mesmo que para isso sua minutagem média tenha sido reduzida para o menor volume da sua carreira, com 22 minutos por partida. Serge Ibaka ainda não voltou a ser aquela besta defensiva dos seus melhores momentos, mas pelo menos retomou o impacto positivo que tinha nos últimos anos de Oklahoma City Thunder.

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Demar Derozan, melhor jogador do time, vem jogando o basquete mais decisivo da sua carreira. Apesar de vir fazendo menos pontos do que na última temporada, Derozan vem sendo mais participativo na criação de jogadas e sendo mais eficiente na finalização – este último, o maior problema da equipe quando chegava aos playoffs nos últimos anos. Kyle Lowry, outro que caia muito de rendimento no mata-mata, vem tendo um ano com estatísticas ofensivas discretas, mas continua sendo um dos jogadores que, quando em quadra, mais colabora para que seu time faça pontos e mais consegue evitar que sofra (o saldo  do Raptors com ele em quadra é, em média, de 15 pontos).

Por fim, o banco do time canadense é disparado o que tem jogado melhor em toda a liga. Mesmo com um monte de gente jovem e discreta, é a formação reserva que mais pontos faz e menos leva quando reunida em quadra.

Não sei se é porque eu acho um saco esse papo de ‘afinar’ e ‘amarelar’, mas eu consigo ver quase tudo com bons olhos para o Toronto Raptors nestes playoffs. É interessante que o time tenha aprendido a jogar com uma distribuição maior do ataque, tirando parte do peso das costas da dupla Lowry e Derozan. Nos outros anos, as defesas se concentravam em anular os dois e o Raptors não conseguia formas alternativas de escoar seu ataque. Treinando algo do tipo ao longo de 80 jogos de temporada regular, é provável que a equipe chegue mais vacinada para enfrentar situações parecidas.

O elenco tem jogadores em posições mais adequadas para o matchups que podem vir a enfrentar nos playoffs. Dá para apostar em Valanciunas para brigar no garrafão quando o time adversário permitir, dá para colocar Ibaka como pivô quando for necessário jogar com a quadra aberta e até recorrer a Pascal Siakam quando for necessário correr e apelar para um jogo mais atlético.

O banco deve perder minutos nos playoffs – tradicionalmente os times titulares jogam mais tempo nessas horas -, mas a rodagem da temporada regular foi suficiente para que cada um dos reservas tenha mostrado algum tipo de habilidade para colaborar caso as coisas saiam do controle numa série de playoff. CJ Miles é uma opção quando o ataque estiver muito previsível. Delon Wright pode dar velocidade ao time e agressividade ao ataque – é um dos jogadores que mais pontua por posses de bola e tem o terceiro maior aproveitamento de toda a NBA em jogadas de pick and roll.  Fred VanVleet e Norman Powell são alternativas para fortalecer a defesa, que já tem OG Anunoby entre os titulares para fazer o papel de carrapato da estrela rival.

Para completar, é o time com melhor desempenho dentro de casa em toda a liga atualmente – e jogaria em casa a maior parte da série contra quase todos.

Não é que tudo isso vá funcionar para o time ser campeão da NBA. Mas é o ano em que está em melhores condições para ser a zebra. Pelo menos, para fazer a melhor campanha da sua história.

Na temporada regular, o time só está em desvantagem perante o Warriors, para quem perdeu os dois confrontos – ainda que tenham sido jogos equilibrados. Contra o Houston foram duas vitórias canadenses (e uma delas contra o Rockets completo, o que é um baita feito, já que o trio James Harden, Chris Paul e Clint Capela, juntos, só perdeu dois jogos na temporada), contra o Cavs foi uma vitória em um jogo (uma lavada) e com o Celtics venceu uma partida e perdeu outra na última bola.

Nos playoffs as coisas são diferentes, claro – além do que ainda existem times mais fortes na disputa -, mas o Toronto Raptors nunca chegou tão bem preparado para bater de frente com seus maiores rivais. E parece que aprendeu com os playoffs passados.

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