Brilhante por R$ 15? No mercado de figurinhas da Copa, vale (quase) tudo

Grupos de troca nas redes sociais se transformam em verdadeiros balcões de negócios; tem gente que paga até a escola do filho com o que lucra nessa época

Relacionadas

Se você passou parte das últimas semanas em busca de figurinhas da Copa do Mundo da Rússia, em algum momento certamente se deparou com a frase: "Brilhante, eu troco por dez normais". E se irritou com isso, ainda mais se veio de alguém conhecido. Bem, lamento informar que isto não é nada perto do que se vê em grupos criados nas redes sociais para o troca-troca dos desejados cromos do álbum. Na verdade, há um verdadeiro mercado rolando em torno disso. E ele gira muito, muito dinheiro.

+ Pacote de figurinha da Copa vendido no Brasil é o mais barato do mundo, aponta pesquisa

+ Preencher o álbum da Copa do Mundo custa R$ 474

+ Brasil é o país que mais consome figurinhas do álbum da Copa da Rússia

Primeiro, é bom dizer que há de tudo relacionado a figurinhas: gente negociando lotes a preços fechados (com e sem repetidas), caixinha para guardar os cromos, maleta ou capa de proteção para o álbum... E não apenas do Mundial que se aproxima. Muitos aproveitam os posts para divulgar coleções de Copas passadas. 

Por exemplo, a reportagem do FERA, que passou quase um mês acompanhando as negociatas publicadas em um grupo do Facebook, viu uma pessoa anunciando um álbum já preenchido do Mundial de 2014, em capa dura, por R$ 500. 

Também há todo tipo de negociante. Desde pessoas que, de fato, estão ali em busca da troca pura e simples, uma pela outra, sem que a tão sonhada figurinha faltante entre num rolo envolvendo várias outras (o chamado colecionador raiz) até o "colecionador Nutella", que considera os cromos do Neymar e do Messi mais raros e inflaciona a transação, seja envolvendo muitas figurinhas ou cash.

Mas quem realmente ganha grana com isso não está exatamente preocupado em abrir pacotinhos e preencher os retângulos em branco do álbum – são 682 no do Mundial russo. E transita dentro e fora das redes.

'Ganhei 19 mil reais na Copa passada'

Marcio Bueno é cantor, mas, em 2006, graças ao nascimento do primeiro filho, descobriu um novo filão. O álbum da Copa da Alemanha serviria como recordação do primeiro Mundial para o bebê recém-nascido. Um dia, foi a uma banca comprar mais figurinhas. Encontrou quem seria uma espécie de sócio pelos anos seguintes e lhe daria dicas preciosas.

"Ele estava com uma caixa grande, cheia. E explicou que o segredo era comprar bastante no início e ir trocando com a galera. Ele disse: 'Esquece o seu álbum. Investe um dinheiro nas suas figurinhas e vai juntando, colocando elas em ordem, na sequência. Aí, quando a pessoa precisar muito de uma sua, você escolhe três da coleção dela'. Dessa maneira, fui triplicando o que tinha", conta Marcio, que não largou mais o lucrativo hobby. Em 2014, diz, investiu R$ 3,5 mil antes do Mundial realizado no Brasil. "Ganhei R$ 19 mil em dois meses", garante.

 

O momento de vender, afirma, é mais perto do evento começar, quando as pessoas estão atrás de poucos, porém difíceis, exemplares. A frebre de 2018, por exemplo, são as chamadas brilhantes: 50 figurinhas especiais, metalizadas e com efeito holográfico que, nos grupos das redes sociais, chegam a custar até R$ 15.

"Nas brilhantes, o segredo é segurar o máximo que der antes de ir ao mercado. A da Argentina, por exemplo, está escassa atualmente. Tenho mais de 20 dela. Você vai estudando o mercado para saber o que está mais difícil."

Em tese, deveriam custar o mesmo que as demais, pois vêm nos mesmos pacotinhos, vendidos nesta Copa a R$ 2, com cinco cromos em cada. Ou seja, o preço unitário da figurinha é de R$ 0,40. Porém, de acordo com colecionadores e investidores, há uma clara defasagem entre um tipo e outro no mercado.

Questionada pela reportagem, a fabricante do álbum garantiu não haver diferença na distribuição. "A Panini informa que todos os 682 cromos que compõem o Livro Ilustrado Oficial da Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 são impressos na mesma quantidade, incluindo as 50 figurinhas especiais. Após embalados na fábrica da Panini, a distribuição dos envelopes com os cromos são enviados para todo o Brasil de acordo com o histórico de vendas de cada cidade. Os distribuidores regionais enviam os envelopes para as bancas e outros pontos de venda utilizando o mesmo critério".

'Saio de casa cedo e só volto à noite'

No Recife, "Roger Figurinhas", como prefere ser identificado o personagem contatado pelo FERA, está no mercado de venda de figurinhas há 13 anos. Começou com o álbum do Campeonato Brasileiro de 2005. Já possui até cartão de visita.

 

"Tem muita gente que fala barbaridades quanto a esse comércio, mas eu não ligo, pois muitas dessas pessoas acabam vindo comprar comigo depois quando percebem que iriam gastar muito mais tempo e dinheiro com os pacotinhos", afirma o vendedor, que não soube precisar quanto fatura com esse comércio.

"Só sei que dá para realizar algumas das minhas necessidades. Já paguei em outros anos escola do menino (referindo-se ao filho), adquiri móveis bons para a minha casa..." 

MAIS SOBRE:

futebolFigurinhasálbum de figurinhasCopa do Mundo Rússia 2018 [futebol]NeymarMessi
Comentários