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A NBA faz hoje seu Encontro Anual dos Perdedores: o sorteio da ordem do draft

(AP)

É na noite de hoje que a NBA reúne todos aqueles times que perderam de propósito boa parte das suas últimas partidas da temporada junto daquelas equipes que até tentaram ganhar, mas não tiveram competência de ficar na metade de cima da tabela (na maior parte das vezes porque entregaram o ouro para alguns dos times que estavam perdendo de propósito) para seu Encontro Anual dos Perdedores, quer dizer, para o sorteio da ordem do próximo draft de calouros.

A cerimônia tem uma pegada meio deprimente. Apesar de todo mundo estar ali esperançoso de que os rumos das franquias mudarão e que dias melhores virão dali em diante, a verdade é que dos 14 times que estarão reunidos, boa parte sairá decepcionado com o sorteio e uma quantidade considerável continuará perdendo por mais um tempo – seja por causa do legado maldito de sucesso do processo de ‘tanking’ do Philadelphia 76ers ou pela falta de competência dos caras que comandam as equipes.

Também não é uma boa estar ali por uma maldição que ronda quem cada time escolhe como seu representante no sorteio. Cada franquia escolhe quem vai lá representar o time, pode ser um executivo, jogador, ex-jogador ou técnico. Exceto pelas vezes em que é um ídolo, via de regra o escolhido tem um destino sinistro nas temporadas seguintes. Dos que estavam no ano passado, Rich Cho já foi demitido do cargo de gerente geral do Charlotte Hornets e Frank Vogel também foi limado como técnico do Orlando Magic. Do ano anterior, Jimmy Butler foi trocado do Chicago Bulls, Isaiah Thomas saiu do Boston Celtics de um modo não muito legal, Jason Kidd foi despedido do cargo de técnico do Milwaukee Bucks e Mitch Kupchak perdeu o lugar que tinha na direção do Los Angeles Lakers. Da turma de 2015, Larry Bird (Indiana Pacers), Nerlens Noel (Philadelphia 76ers), Byron Scott (Lakers) e Phil Jackson (New York Knicks) já tiveram suas separações traumáticas.

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Essa praga aí deixada de lado, uma matéria do New York Times de 2015 contou como são os bastidores nada glamourosos do sorteio – bem diferente dos 2 minutos que passam na TV com o anúncio dos três times que ficaram com as primeiras posições da loteria. Duas horas antes do anúncio, representantes de segunda linha dos times, da NBA e alguns jornalistas são reunidos em uma sala no subsolo do hotel onde a cerimônia acontece. Todos são trancados sem seus celulares e sem que possam sair pra ir ao banheiro para acompanhar o sorteio real das posições. Eles ficam lá para acompanhar a lisura do processo, mas só podem sair depois que a notícia é divulgada ao público, ao vivo, em uma encenação com os representantes conhecidos das franquias.

O processo acontece da seguinte maneira. A ordem de pior para o menos pior da temporada anterior define as probabilidades de cada time ganhar a primeira escolha. Para este ano, por exemplo, o Phoenix Suns, time de pior campanha, tem 25% de chances de ficar com a primeira escolha, o Memphis Grizzlies é o segundo com 20% e assim caindo sucessivamente.

Estas chances, na verdade, se refletem em números de combinações possíveis. Na prática, a NBA distribui 1001 ‘senhas’ entre os 14 times. O Phoenix tem 250 diferentes, o Memphis tem 200, o Dallas Mavericks 140 até o Denver Nuggets, que só tem 5. Então 14 bolinhas de pingue-pongue são colocadas em um globo e quatro delas são sorteadas, resultando em uma sequência. O time que tiver a ‘senha’ daquela sequência fica com a primeira escolha. Isso se repete para definir o segundo e o terceiro – do quarto em diante, se respeita a ordem da pior para melhor campanha entre os que sobraram.

É cruel, mas acho justo que uma meia dúzia de times tenha feito de tudo para ficar com a pior campanha, que só uns dois ou três vão sair efetivamente satisfeitos com as posições que vão pegar e que mesmo assim não há garantia nenhuma de sucesso – vide Anthony Bennett, Hasheem Thabeet, Kwame Brown, Andrea Bargnani, Jahlil Okafor e outras dezenas de escolhas que não valeram um décimo das derrotas que seus times sofreram.

É curioso que a cerimônia que premia os piores do ano aconteça justamente durante a disputa das finais de conferência. Ao mesmo tempo que é um prêmio de consolação, é uma forma de evidenciar o quanto quatro times triunfaram e o quanto outros, quase metade da liga, estão no caminho inverso. Que enquanto os torcedores de 16 franquias se divertiram com seus times no mata-mata, o melhor momento do ano, os outros estão torcendo por uma boa combinação de bolinhas de pingue-pongue em um globo que não tem nada a ver com o basquete.

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