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Desprezado de volta, Isaiah Thomas busca reconhecimento no Nuggets

Uma maneira comum de avaliar o quanto um jogador é melhor do que outro, o quanto um time valoriza um atleta em detrimento de outro é o salário que cada um recebe (surpresa: não é só no basquete que isso acontece…). Por mais que para um torcedor o que importe seja a bola na cesta, a folha salarial determina o quanto cada time pode fazer, contratar, renovar e o contracheque do atleta, mesmo em uma liga de milionários onde dinheiro não é mais problema para ninguém, é a melhor medida de status.

É claro que existem distorções. Até pouco tempo, Stephen Curry era o único MVP unânime da história e era apenas o 67º maior salário de toda a NBA, atrás de Javale McGee, Roy Hibbert, Joakim Noah e outros jogadores que hoje não valem nem o mordedor que Curry insiste em mostrar toda hora. Mas mesmo quando uma bizarrice dessas acontece – justificada na época pelo momento que Steph assinou seu contrato, quando ainda parecia condenado a conviver com lesões graves no tornozelo -, o tempo geralmente trata de compensar as injustiças. No ano passado, por exemplo, o armador assinou o primeiro contrato da história a ultrapassar a marca de 200 milhões de dólares.

Geralmente mas nem sempre. Se tem um cara, pra mim, que é injustiçado, menosprezado e, neste contexto, sempre foi muito mal pago, é Isaiah Thomas. Ontem, mais uma vez, um time assinou por uma bagatela com ele. O Denver Nuggets o contratou pelo vínculo mínimo de veterano, 2 milhões de dólares anuais.

Essa grana só é maior do que os salários dos esquecíveis Malik Beasley e Tyler Lyndon. Vai ganhar menos do que os super expressivos Juan Hernangomez e Torrey Craig, por exemplo. Seis vezes menos do que mediano Wilson Chandler. Seis vezes menos do que o nada-de-especial Will Barton ganhará anualmente pelas próximas quatro temporadas.

Eu entendo que Isaiah Thomas ainda não provou estar recuperado da gravíssima lesão no quadril que sofreu há um ano e que nesse meio tempo mostrou mais momentos constrangedores do que brilhantes. Mas eu tenho certeza que esse contrato ridículo oferecido a ele pelo Nuggets e a recusa do Orlando Magic em assinar com o jogador há algumas semanas tenha mais a ver com a eterna desconfiança que toda a NBA nutriu por Thomas do que pelo seu estado de saúde. Sua condição física, na verdade, é um bom pretexto para justificar o ceticismo sobre ele.

Há quem argumente que o menosprezo em relação a Thomas se justifique pela sua altura e pela sua péssima defesa. Eu discordo. Por mais que sejam problemas graves, o tamanho de Isaiah nunca o impediu de ser um espetacular pontuador. Pelo contrário até. Por ser muito menor do que todo mundo, inventou técnicas únicas para sobreviver nas infiltrações aos garrafões rivais. A inabilidade completa na marcação, por sua vez, justificaria um desconto considerável na sua valorização, mas que, ao meu ver, é amplamente compensado pela sua eficiência do outro lado da quadra.

Thomas, vale lembrar, não é um imprestável. Há um ano ele ficou entre os cinco mais votados para ser o MVP da liga. Por duas vezes ficou entre os 15 melhores jogadores do campeonato. Antes de ser trocado para o Cleveland Cavaliers, era o melhor jogador de uma das melhores equipes da NBA inteira.

Essa passagem pelo Boston Celtics e posterior troca para o Cavs, aliás, deixa evidente o quanto ele é desvalorizado. Apesar de ter sido uma das caras da renovação e reconstrução da franquia, uma das maiores estrelas da história recente do time e ter adiado sua renovação, na época, para ajudar o clube a conquistar outros talentos, foi defenestrado assim que possível para um rival.

Um número emblemático é o quanto ele já ganhou em toda a sua carreira, pouco mais de 28 milhões de dólares, é praticamente o mesmo que o Boston Celtics pagou para Gordon Hayward no seu primeiro ano de contrato – que, por uma fatalidade que só deixa a comparação mais bizarra, jogou apenas 5 minutos nesta primeira temporada.

A vantagem deste novo vínculo com o Denver Nuggets, é que Thomas chega em um time já bem encaminhado. É um cenário que dá para ser comparado em alguma medida com o Celtics de alguns anos atrás. Um bom técnico, um time bem preenchido em todas as posições e que esperava que Isaiah fosse uma força vinda do banco. Tem boas chances de dar certo.

E, em uma pegada parecida com a de Demarcus Cousins no Golden State Warriors, se conseguir mostrar que ainda é um jogador foda, pode ir para a próxima offseason gabaritado para beliscar, aí sim, um contrato imenso – contrato que Thomas já merecia ter recebido há muito tempo e ninguém nunca pagou.

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