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Há 67 anos, menor placar da história mudava os rumos do basquete

Súmula do jogo com menor placar da história

Quem vê o basquete ser jogado num ritmo maluco como o de hoje – o mais rápido em praticamente 30 anos, com praticamente 100 posses de bola por time por partida – nem imagina que nos primórdios do basquete profissional uma partida poderia terminar 19 a 18.

Pois é, foi esse o placar entre Fort Wayne Pistons e Minneapolis Lakers há exatos 67 anos. A grande diferença que permitia uma atrocidade destas é que naquela época não existia ainda a regra que limita o tempo máximo de posse de bola (hoje de 24 segundos na NBA e Fiba e 30 segundos na NCAA). Ela, aliás, foi bolada justamente porque os times faziam isso: uma vez na frente no placar, ficavam trocando passes infinitamente até que o outro time cometesse uma falta tentando roubar a bola.

Nos 48 minutos entre Pistons e Lakers no jogo de 1950, os times foram para a linha de lance livre 17 e 15 vezes, respectivamente. Basicamente os times só arremessaram em chutes de quadra na primeira jogada da partida e depois nos segundos finais para tentar tomar a dianteira no placar. No mais, foram uns 40 minutos dos jogadores rodando a bola e o rival correndo atrás dela enlouquecidamente. Imagine que saco!

Como era de se imaginar, o interesse pelos jogos começou a cair conforme os times foram adotando esta tática medonha. Não que isso acontecesse sempre, mas nos jogos mais duros os times tendiam a passar minutos sem atacar a cesta para tentar preservar a liderança no placar. A NBA já estava preocupada com o rumo do jogo e a partida entre Lakers e Pistons acendeu um baita sinal amarelo para a liga.

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Quatro anos mais tarde, a NBA chegou a uma solução: adotou o cronômetro para limitar o tempo de posse de bola. Os 24 segundos surgiram a partir de um cálculo interessante: notava-se que os jogos mais movimentados tinham, em média, 120 arremessos (60 para cada time). Dividiram os 2880 segundos totais de uma partida por 120 e daí chegou-se à média de 24 segundos por posse de bola.

A nova regra, naturalmente mudou os rumos do esporte. Agora basquete não era, necessariamente, um jogo em que simplesmente um time fazia mais pontos que o outro, mas sim um esporte em que o gerenciamento do tempo das posses se tornaria fundamental para se sair bem em uma partida.

Isso fica ainda mais evidente se analisarmos como o basquete evoluiu desde então. Nos anos 70 os times passaram a correr feito loucos e o contra-ataque era a tática dominante. Depois, nos anos 90, a estratégia mudou drasticamente: a palavra de ordem era gerenciar a posse até que o melhor arremesso possível, mais próximo da cesta, aparecesse – e isso geralmente demorava uns 15, 20 segundos para acontecer – e o jogo ficou absurdamente cadenciado. De uns dez anos para cá, a tendência virou mais uma vez: a  convicção é de que quanto mais cedo se arremessar, menos armadas estão as defesas, logo, mais fácil é pontuar.

Como tudo isso parece meio cíclico, é possível que a moda seja outra daqui alguns anos e o jogo volte a ficar mais lento. Ou não. A única certeza é que aquele 19 a 18 de 1950 mudou o rumo do basquete.

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