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Mesmo eliminados, Rockets e Celtics saem da temporada por cima

(AP Photo/Michael Dwyer)

A partir de amanhã, a NBA se resume à série final entre Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers. Nada exprime melhor o favoritismo das duas equipes finalistas do que o fato de que esta é a quarta vez consecutiva que os dois times se encontram no confronto definitivo da temporada – antes deles, o máximo que duas equipes tinham se enfrentado em sequência eram duas vezes. Para isso, cada uma precisou de sete jogos para eliminar Boston Celtics e Houston Rockets.

Toda eliminação por 4 a 3 é doída, pois fica o sentimento de que o embate foi decidido por um mero detalhe. Nos dois casos, mais ainda, uma vez que ambos chegaram a fazer 3 a 2 e ainda tinham a última partida para ser definida em seus aposentos. No entanto, apesar de, sim, tudo ter sido decidido por muito pouco, as temporadas de Houston e Boston foram excelentes – e suas eliminações ficaram longe de serem vergonhosas.

Não podemos nos deixar enganar pelo equilíbrio das duas séries. A final entre Cavs e GSW já estava anunciada muito antes destes playoffs. Já era aguardada antes mesmo do início da temporada, lá em outubro. Por mais que o tempo tenha mostrado que os dois times eram mais vencíveis do que a impressão inicial sugeria (seja pela fraqueza geral do Cleveland e posterior debandada de meio elenco, seja pelo desinteresse do Golden State), o simples fato de Celtics e Rockets terem desafiado este favoritismo a ponto de perderem pelo tal mero detalhe já faz das temporadas destes dois times muito boas.

No caso do Boston isso é mais claro. O time chegou até onde chegou sem seus dois principais jogadores, mostrou que Jayson Tatum era realmente um jogador digno da troca feita pela direção do time antes do draft, reafirmou a qualidade de Brad Stevens, Al Horford e Jaylen Brown e parte para o próximo ano com a batida porém verdadeira ‘dor de cabeça boa’ – afinal, como vai encaixar tanta gente promissora na mesma rotação, sem desmerecer os talentos que emergiram no mata-mata e se aproveitando dos altos investimentos feitos em Kyrie Irving e Gordon Hayward?

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A equipe é uma das mais jovens da liga inteira, mostrou um talento monstruoso e ainda adquiriu uma rodagem rara para um grupo tão inexperiente nestas partidas. Eu, que tinha escrito aqui há algum tempo que o projeto do Celtics era para o futuro já que a temporada tinha sido vencida pelas lesões, tenho que assumir que errei feio nos prognósticos. Já imaginava que o time tinha potencial futuro, mas menosprezei a qualidade atual diante das dificuldades. Como o resultado imediato foi esse, só posso imaginar que o teto para esta equipe é ainda maior para os próximos anos.

E acho que a mesma lógica – de que não foi um ano perdido, que a eliminação não foi um desastre – se aplica ao Houston Rockets. O time foi o que mais chegou perto de eliminar o Golden State Warriors desde que Kevin Durant desembarcou na California. Mostrou a mesma letalidade marcando do rival no ataque e ainda revelou uma capacidade defensiva que surpreendeu muita gente. Foi eliminado em uma série em que perdeu seu segundo melhor jogador e ainda reivindica que foi prejudicado pela arbitragem. Com tantos nuances, não é errado imaginar que, fosse uma coisa ou outra diferente, o Rockets teria feito o inimaginável – e chegaria à final como franco favorito ao título.

Existem muitas críticas a Mike D’Antoni e James Harden. Acho injustas. É claro que passa pelos dois o fato do time ter tentado tanto da linha dos três pontos mesmo quando as bolas não caiam de jeito nenhum (Harden errou mais de 20 bolas seguidas de três ao longo da série e o time como um todo 27 tentativas no jogo derradeiro). Mas é preciso ponderar que o time só chegou até ali, só foi competitivo o bastante porque tinha um modo de jogo muito eficiente, que foi absolutamente baseado neste estilo de jogo.

A equipe podia ter tentado outra coisa? Sim. A produção ofensiva de Harden deixou a desejar? Também. Mas do outro lado existia uma das melhores defesas da liga, absolutamente focada em não permitir que Harden jogasse e que os demais chutes do Rockets caíssem. É difícil, aqui, definir a linha que separa o mérito de um e a falha do outro. Diante de tudo que o Warriors já fez e o quanto o Rockets engrossou pra cima deles, eu fico com a tese de que a virtude do Golden State é que prevaleceu.

Sem contar que ambos, Harden e D’Antoni, tiveram um desempenho na defesa (um em quadra e o outro comandando o time) muito acima do que suas famas pregam. O que, por si só, já desconstrói a tese para mim de que ambos foram mal no confronto.

Eu entendo a frustração dos torcedores dos dois times. Foi por muito pouco que as coisas não foram ainda melhores. Mas não foi um fracasso. Muito pelo contrário, a temporada de cada um deles foi um sucesso.

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