Atletas desabafam sobre a Nike: 'parem de tratar gravidez como doença'

Duas corredoras acusaram a empresa de suspender patrocínios durante período da gestação

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Em relatos publicados no jornal The New York Times, duas atletas norte-americanas questionaram a postura da Nike em relação a atletas mulheres que engravidam. Segundo elas, os pagamentos seriam pausados durante a gestação, apesar das necessidades.

"Empresas como a Nike dizem para nós sonharmos alto. Nós dizemos: que tal se vocês parassem de tratar gravidez como doença?" relatou Alysia Montaño, corredora, ao jornal. Segundo ela, o Comitê Olímpico dos EUA tirou seu plano de saúde durante a gestação, e a Asics, empresa de artigos esportivos, indicou que reduziria seu patrocínio em caso de acordo.

Alysia acusou as empresas de serem injustas com as mães. "A indústria do esporte permite que homens tenham uma carreira completa. Mas quando uma mulher decide ter um bebê, a indústria a expulsa", relatou. "Quando eu disse para a Nike que teria um bebê, eles disseram: É simples, vamos pausar seu contrato e parar de te pagar'", contou.

Ela pediu por mudanças no sistema, como a criação de uma licença-maternidade. "Não ter um sistema que proteja nossas atletas mulheres é algo que põe nossa saúde em risco. Nossos patrocinadores sabem que isso não é certo, e é por isso que colocam cláusulas de confidencialidade nos contratos que nos proíbem de falar do problema", acusou.

O caso de Kara Goucher, corredora de longas distâncias, foi tão dramático quanto. Ela ouviu do médico que precisaria escolher entre correr 190km por semana, para que o pagamento não fosse reduzido, ou amamentar o filho, já que seu corpo não aguentaria as duas coisas.

Posteriormente, o bebê ficou doente quando completou três meses. Kara precisou escolher entre ficar ao lado dele, ou seguir treinando para uma maratona e ter o dinheiro para cuidar dele, ou continuar treinando. "Eu senti que precisava deixá-lo no hospital e continuar treinando, correndo, levando meu corpo ao limite, em vez de ficar com ele como uma mãe normal faria. Eu nunca vou me perdoar por isso", disse a atleta ao The New York Times, chorando.

"Se eles tratarem sua gravidez como distração ou lesão, lembre-os do que nos disseram: grandes atletas nunca desistem. Grandes atletas testam os limites do que é possível dentro e fora das pistas. Porque esse é o espírito que enche estádios e vende tênis", terminou Alysia Montaño, com ironia.

Questionada pelo portal UOL, a Nike encaminhou uma breve nota sobre o assunto. Leia aqui na íntegra.

A Nike se orgulha de patrocinar milhares de atletas do sexo feminino. Como é prática comum, nossos contratos incluem cláusulas relacionadas a desempenho.

Historicamente, algumas atletas do sexo feminino tiveram pagamentos reduzidos com base no não cumprimento de suas obrigações contratuais de desempenho. Reconhecemos que havia uma necessidade de mais consistência em nossa abordagem e, em 2018, padronizamos nossa abordagem em todos os esportes, de modo que nenhuma atleta feminina seja penalizada financeiramente pela gravidez.

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