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Se Eric Pardinho é hoje o maior talento brasileiro do beisebol, muito se deve a Mitsuyoshi Sato, o coordenador técnico da Academia MLB, em Ibiúna, e o técnico de arremessos do garoto enquanto ele esteve no centro de treinamento do interior de São Paulo.
Presente no evento que oficializou o contrato de seis anos do menino com o Toronto Blue Jays, "Sensei" deixava transparecer o orgulho pelo seu aprendiz e a felicidade sobre o resultado do seu esforço. "Daqui para frente só depende dele. Nosso trabalho já está todo feito."
Apesar da satisfação pelo objetivo alcançado, ele apenas espera que o discípulo não se deixe acomodar sobre seu dom. "Sempre falei para ele: talento é limitado, mas esforço próprio, não."
Prestes a completar 71 anos, Sato é treinador de beisebol há 45, sendo 34 deles na seleção brasileira. Desde 2000, ele também participa da Academia, projeto implementado pela Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol (CBBS) no CT de Ibiúna e que, desde janeiro de 2017, passou a contar com maior investimento da liga norte-americana.
Tamanha história no beisebol contrasta com a curta, porém meteórica, carreira do garoto. Ao final da entrevista coletiva, "Sensei" fica sozinho, encostado em uma das paredes da sala, de braços cruzados e com um pequeno sorriso no canto da boca, apenas observando o assédio da imprensa ao redor de Pardinho, se lembrando da trajetória do menino.
Mas o que faz de Pardinho tão diferente dos outros garotos? "Tem quatro fatores importantes: físico, mental, técnico e alimentar. Ele trabalha rigidamente esses aspectos, fundamentais para o desenvolvimento de um jogador."
"Assim como o Neymar nasceu para chutar bola, o Pardinho nasceu para lançar a bola."
"Ele é avançado desde o infantil. Ele é um líder positivo dentro do time. Isso é muito importante. Quando o time perde um jogo, ele sabe unir, sabe levantar a equipe", confessa Sato, contrariando a imagem tímida e acanhada que o próprio Pardinho passa nos seus encontros com a imprensa. "Dentro de campo ele é um demônio."
Destaque nos campeonatos das categorias infantis, Eric chegou ao topo no seu primeiro torneio adulto, em setembro do ano passado, quando ainda tinha 15 anos. Se seus arremessos a 95 mph (152 km/h) impressionaram os olheiros norte-americanos em Nova York, a atitude dentro do vestiário também foi aprovada pelos mais experientes.
"Na verdade, a primeira vez que os olheiros observaram ele foi no Panamá, no ano passado", revela Sato, lembrando do Campeonato Pan-Americano Júnior, para jogadores até 16 anos. "O Brasil jogou contra a República Dominicana e os scouts estavam lá para ver os dominicanos. Mas ele começou a eliminar todo mundo e eles se viraram pro Eric."
"No Panamá, no ano passado, ele já jogava 92, 93 milhas por hora. É uma coisa muito rara. Para meninos da idade dele, raríssimo."
A velocidade absurda que Pardinho consegue colocar em seus arremessos requer bastante cuidado, para evitar lesões, o que pode minar seu talento. Por isso, "Sensei" espera que o garoto não aumente demais a metragem das suas bolinhas. "Estou torcendo para não chegar a muito. Agora, o que eu quero dele, é precisão do trabalho. Controle das bolas. Mais inteligência. O cérebro é infinito, mas o músculo, tem limite. Na velocidade que ele está, já é ótimo."
"Sensei" lembra também que Pardinho deve saber dosar os momentos de aumentar e diminuir a velocidade. Além disso, ele não pode ter somente um tipo de arremesso no repertório.
Até o último instante da conversa, Sato ainda se posiciona como o treinador de Pardinho, preocupado com cada detalhe do jogo do menino. No entanto, assim que é novamente deixado desacompanhado na sala, ele volta a ser apenas um admirador, com um sorriso no canto da boca, cheio de orgulho pelo sucesso do seu pupilo.