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A inexperiência do Sixers ficou evidente, mas não justifica a derrota

(AP Photo/Matt Slocum)

Assim que Marco Belinelli acertou um chute milagroso da zona morta no estouro do cronômetro, alguém do Wells Fargo Center apertou o botão que libera que a festa da vitória comece com uma chuva de papel picado. O time inteiro comemora, a torcida vai ao delírio e tudo mais. Teria sido perfeito se o chute tivesse mesmo garantido a vitória do time naquele momento. Não era o caso. A cesta empatou o jogo, apenas, levando o Philadelphia 76ers para a prorrogação. A festa em quadra e o alívio dos torcedores fazia todo o sentindo, mas ainda não era o momento da organização da arena armar a comemoração da vitória. Um ato falho, mas que expressou bem toda a ansiedade e a falta de traquejo na derrota do Philadelphia na noite de ontem.

A partida foi pau a pau e o Sixers mostrou que pode equiparar forças com o Boston Celtics, que já vinha de duas vitórias em casa. Apesar de não ter conseguido fazer as bolas caírem na frequência adequada e característica da equipe, a defesa se saiu bem e o jogo foi pegado do início ao fim, com até certa vantagem para o Phila no placar em boa parte dos momentos finais de partida. Mas o time pecou na hora tomar as decisões nos momentos-chave do jogo. A inexperiência bateu forte.

A começar pela besteira naquela que deveria ser a última jogada da partida e não foi – por um vacilo enorme do Sixers. Com 24 segundos por jogar e com o placar empatado em 87 a 87, o Philadelphia só tinha que fazer o tempo passar e chutar na melhor condição possível ao final deste tempo. Mas quando fazia a transição da defesa para o ataque, JJ Redick, deu um passe nas costas de Ben Simmons, e acabou entregando a bola de graça para o rival fazer o contra-ataque e completar uma cesta fácil a 4 segundos do fim.

O erro foi crasso. Antes da trapalhada, na pior das hipóteses alguém do Philadelphia erraria o chute e o jogo iria para o ‘overtime’. Depois dela, o time se colocou numa situação horrorosa, atrás do placar e com a obrigação de rodar uma boa jogada em menos de meia dúzia de segundos e ainda acertar o chute que escolhesse. Tudo isso temperado por um clima de velório.

Marco Belinelli conseguiu concertar as coisas, acertar o chute – aquele que fez alguém do staff da arena a apertar o gatilho do papel picado equivocadamente – e levar o jogo para o tempo extra. Mais cinco minutos e jogo e mais jogadas precipitadas do Sixers.

A 46 segundos do final da prorrogação, o time da casa estava dois pontos a frente no placar e com a posse de bola. Fazer uma cesta simples, de dois, daria um certo conforte à equipe, já que o Celtics precisaria de duas posses para empatar ou retomar a liderança na partida. Novo vacilo, praticamente igual ao anterior: Joel Embiid e Belinelli se embananam, a bola pipoca e o Celtics rouba mais uma bola do nada, quando tudo parecia estar sob controle para o Sixers. Dessa vez, o desfecho, a princípio, foi menos traumático: já que Embiid conseguiu fazer falta em Horford e o pivô celta acertou só um dos lances livres e a bola voltava para o Phila com um ponto na frente.

O time foi ao ataque, a defesa do Celtics apertou e acabou que Joel Embiid caiu sem muita inspiração no post contra Horford. Com os 24 segundos da posse de bola quase esgotados, o camaronês gira, chuta, erra e Ben Simmons, bem posicionado, consegue resgatar o rebote ofensivo. Apesar de estar na liderança e agora ter apenas 18 segundos restantes para o final da partida, Simmons arremessa e erra, devolvendo a bola para o Boston de graça – pela enésima vez no jogo.

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Mesmo que tivesse feito a cesta, a decisão do calouro era bem questionável, já que daria a bola para o Celtics com um bom tempo no cronômetro. Mas, pior que isso, ele quase meteu um air ball a três passos da tabela. A bola só triscou no aro. O correto, naquele momento, seria segurar a bola e tentar passar para algum colega como Redick, que tem um excelente aproveitamento dos lances livres – o Boston logo faria a falta para tentar recuperar a bola a tempo de tentar empatar o jogo. Mas não exijo toda essa clareza naquele momento. Bastaria que ele abraçasse a alaranjada até que sofresse a falta que a resolução da jogada seria infinitamente melhor. Ele iria pro lance livre, poderia acertar um só que fosse, e já colocaria o Boston em péssimos lençóis. Só que aconteceu justamente o contrário: devolveu a bola pro rival, que fez a cesta e garantiu a vitória e o 3 a 0 na série.

Ficou evidente a inexperiência do Sixers nestes momentos decisivos da partida. Dois erros bizarros e uma jogada ingênua que não podem acontecer em uma disputa tão apertada e equilibrada. Tivesse feito uma escolha melhor em uma delas, o jogo possivelmente teria um desfecho diferente.

No entanto, isso não é desculpa para a equipe estar perdendo para o Celtics assim. Nem mesmo para essa derrota em especial. A equipe do Boston é tão inexperiente quanto e tem demonstrado muito mais calma e maturidade nos momentos finais das partidas. Jayson Tatum, o mais novo a entrar em quadra no jogo de ontem, é o cestinha da série e possivelmente o jogador mais decisivo do Boston nos playoffs.

Além dele, Jaylen Brown e Terry Rozier, tão novos quanto Simmons e Embiid, têm jogado como veteranos e não cometem estes erros básicos que a dupla do Sixers comete. Isso mostra como não é uma questão de idade e que não é a falta de rodagem que faz o Philadelphia estar perdendo.

Acho que o que explica o 3 a 0 até aqui é a limitação no jogo de Simmons, a sobrecarga em Embiid, a inconsistência nos chutes de Ersan Ilyasova, JJ Redick e Marco Belinelli (todos super rodados), a supremacia tática do Boston e, aí sim, a maturidade do elenco do Celtics.

A inexperiência ficou clara – até quando um cara fora da quadra apertou o gatilho do papel picado antes da hora, algo que nada tem a ver com o jogo propriamente dito -, mas não é o que justifica o placar da série. Até porque os dois lados tem doses cavalares disso. A diferença entre os dois times tem ido além disso.

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