As chances do Pelicans contra o Warriors são mínimas, mas elas existem

Pedro Brodbeck

(Kyle Terada, USA TODAY Sports)

A vitória do Golden State Warriors sobre o San Antonio Spurs na noite de ontem confirmou o primeiro confronto da segunda rodada dos playoffs. O atual campeão enfrentará o New Orleans Pelicans a partir de sábado. Em condições normais de temperatura e pressão, eu jamais imaginaria o time de Anthony Davis eliminando o Golden State. Mas, do jeito que as coisas se desenrolaram na primeira rodada para o New Orleans, a dúvida acerca da saúde de Stephen Curry e uma possibilidade real de um encaixe nos confrontos individuais desta série me fazem acreditar que é possível uma zebra. As chances são mínimas, é tudo muito improvável, mas pode acontecer.

Quem viu alguma coisa de basquete nos últimos três anos sabe quão bom é o Golden State. É quase desnecessário explicar aqui porque o time entra em qualquer confronto como favorito. A sua formação titular tem dois dos cinco melhores jogadores de basquete do planeta. Tem três dos melhores arremessadores de todos os tempos. Tem alguns dos melhores e mais versáteis defensores da NBA atual. Seu técnico é brilhante. Enfim, tem o melhor talento possível aliado a um sistema que funcionou e mudou a forma como se joga basquete nos dias de hoje. Tudo que um time precisa para vencer.

Para um time destes ser derrotado, é preciso enfrentar alguma coisa que anule vários destes fatores. Ou uma equipe que se sobreponha a boa parte destas virtudes. Até hoje, só o Cleveland Cavaliers de dois anos atrás é que conseguiu fazer isso. Precisou de sete jogos com Lebron James (simplesmente o melhor jogador de basquete dos últimos 20 anos) e Kyrie Irving jogando algo descomunal. E isso que o Warriors não tinha Kevin Durant naquele momento. Com o camisa 35, ninguém chegou perto de batê-los.

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Acontece que, em um golpe de sorte, talento e timing, pode ser que o Pelicans reúna algumas das condições necessárias para levar esta série. Hoje o time de New Orleans tem um jogador que joga tanto quanto ou até mais do que Kevin Durant e Stephen Curry vem jogando. Anthony Davis é uma besta em forma de humano (ou mais ou menos em forma de humano). Das virtudes parecidas que fizeram Durant um jogador único, Davis consegue aliar com como ninguém tamanho, força física, agilidade e talento. É capaz de ser imparável e ainda parar quem for necessário.

Isso por si só não basta. Anthony Davis vem sendo um monstro há tempos e por uma boa parte desse período ele sequer foi capaz de levar o time aos playoffs. Mas o Pelicans hoje é mais do que isso. O time tem dois jogadores que conseguiram segurar o ímpeto de dois dos melhores chutadores da liga. É de se suspeitar que tenham os recursos necessários para repetir a dose contra Steph e Klay – ou pelo menos dificultar a vida dos dois.

Esse congelamento do backcourt rival foi o grande trunfo de Alvin Gentry que, contra alguns prognósticos, deu um nó em Terry Stotts. Trabalhando com a hipótese de que Gentry conhece algumas armas de Steve Kerr mais afundo, já que foi assistente do técnico rival no primeiro título dele diante do Warriors, dá para supor, com bastante otimismo, que o Pelicans larga novamente com alguma vantagem para tentar atrapalhar o ataque do atual campeão.

Por fim, a volta de Stephen Curry ainda não está confirmada. O armador será reavaliado sexta-feira, na véspera da primeira partida, para saber em que pé anda sua recuperação. A última informação dizia que ele ainda não estava tão perto assim de voltar ao jogo. E por mais que o Warriors ainda seja um baita time sem ele, a sua ausência é o maior reforço que o New Orleans pode ter.

Claro que eu só listei os pontos que podem favorecer o Pelicans – um matchup difícil para parar Anthony Davis na atual fase, o sucesso de Rondo e Holiday em segurar uma dupla de armação boa no chute, a capacidade de ajuste que Gentry mostrou na fase anterior e a possível ausência de Curry por alguns jogos. Até porque em todos os outros aspectos do jogo, o Warriors é amplamente favorito. Mas, considerando que tudo isso tem alguma chance de dar certo, acho que teremos uma série mais competitiva do que se esperava quando os dois times entraram nos playoffs, duas semanas atrás.

Para efeitos de comparação, acho que o Pelicans, com muita sorte, pode fazer algo parecido com o que o Oklahoma City Thunder fez há duas temporadas, quando por pouco não eliminou o Warriors na final do Oeste: usou suas estrelas para tentar equiparar as coisas no ataque e se aproveitou de pontos muito específicos para anular algumas qualidades do rival. Naquela oportunidade, o Thunder, mesmo com um time bem mais fraco, carregou o garrafão, apostou na luta pelos rebotes ofensivos, abusou do jogo físico e levou a série ao sétimo jogo.

É bem difícil, mas é possível.