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Como o Indiana se tornou um dos quatro melhores do Leste?

(Brian Spurlock-USA TODAY Sports)

A temporada da NBA começou com os torcedores do Indiana Pacers comparando o elenco da franquia com aqueles que pareciam ser seus maiores concorrentes para conseguir uma boa posição no próximo draft. Ao se desfazer de Paul George por Victor Oladipo e Domantas Sabonis e não ter ido atrás de nenhuma estrela já consagrada na offseason, parecia que o ano do time se resumiria a perder o máximo possível para superar Chicago Bulls, Atlanta Hawks e companhia na busca pelo melhor calouro a disposição na classe seguinte.

O ano começou, Oladipo vinha muito bem, a equipe largou bem e, o que parecia só uma fase boa, se confirmou como uma campanha surpreendente. Ao longo de toda a temporada, o Indiana Pacers sempre esteve entre os oito classificados aos playoffs. Agora, mais do que nunca: ultrapassou o Cleveland Cavaliers e já ostenta a terceira melhor campanha da conferência Leste.

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Mas como um time que parecia mais interessado em um plano de fortalecimento a médio prazo virou uma equipe interessante de imediato? Não é uma resposta fácil.

Há, com certeza, um fator muito surpreendente de desempenho individual dos jogadores, sim, como a evolução de Sabonis, o domínio de Oladipo e a consistência de Thaddeus Young e o renascimento de Lance Stephenson. Mas é de se suspeitar que há algo maior por trás quando tudo isso dá certo ao mesmo tempo, em um time que só tem mais Darren Collison, Bojan Bogdanovic e Myles Turner de talento à disposição no elenco – todos bons jogadores, mas com cacife incomparável com os rivais que contam com Lebron James, Giannis Antetokounmpo, John Wall, Bradley Beal, Joel Embiid, Ben Simmons, etc.

No entanto, o time do técnico Nate McMillan não executa a receita de sucesso mais óbvia e copiada de hoje. Não é um time que tem um aproveitamento impressionante das bolas de três – aliás, nem chuta muito de trás do arco -, não tem uma defesa sufocante, não corre a quadra mais do que os demais, passa menos a bola do que a média da liga. Como então um time meia boca, que não faz nada do que “tem que ser feito” consegue estar tão bem?

A resposta parece ser justamente que o time executa aquilo que ninguém mais faz com extrema eficiência e disciplina. Ninguém chuta tanto arremessos longos de dois pontos quanto o Pacers – aqueles chutes que são feitos quase na linha de três, mas que ainda valem dois pontos. Este arremesso, que hoje é demonizado por ter a mesma eficiência de acerto que as tentativas de três, mas que valem 1/3 a menos dos pontos, tem sido a principal fonte de pontuação do time.

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Por ser tão condenável, o Indiana tem explorado com inteligência o vácuo das defesas neste ponto da quadra. Praticamente um a cada cinco dos chutes do time saem dali. A maioria esmagadora também é criado a partir do drible do jogador que está armando a jogada ou de pick and roll, em que a bola chega para o jogador que fez a parede para quem carregava a bola. Nestas duas situações, o mais comum é que ou o armador infiltre para tentar finalizar o mais próximo possível da cesta ou que o arremesso saia dos três pontos, depois de uma troca infeliz de marcação. O Indiana Pacers não faz nem uma coisa, nem outra.

Como as defesas trabalham esperando outro time de finalização, o chute longo de dois pontos surpreende a marcação, que tende a estar mais distante ou que pode já ter sido deixada para trás. E, por mais que os analytics recomendem arremessos de outros pontos da quadra, o chute sem marcação continua sendo o mais recomendável. Sempre.

O time também executa bem o básico: mescla bem as jogadas de contra ataque, chuta pouco mas com bom índice de acerto de três, cai no jogo de costas pra cesta em uma proporção eficiente e explora o isolation acima das médias hoje consideradas aceitáveis mas com um bom aproveitamento de acerto.

Como a receita é muito inusitada e o elenco é modesto, também não dá pra descartar uma certa dose de acaso por tudo estar correndo tão bem – dá para comparar com o Charlotte Hornets de dois anos atrás, que surpreendeu, foi muito bem e caiu nas temporadas seguintes mesmo jogando um basquete muito parecido com aquele que deu certo. Mas talvez pensar assim seja excesso de desconfiança com um trabalho que foi tão surpreendente que só pode estar no caminho certo.

Mas, inegavelmente, só de ter trocado sua principal estrela em uma negociação que parecia condenada ao fracasso e mesmo assim se sair melhor do que praticamente todos os concorrentes muito mais badalados, a temporada do Indiana Pacers já foi um sucesso estrondoso. Que venham os playoffs.

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