Mesmo eliminado, o Indiana Pacers teve uma temporada gigante

Pedro Brodbeck

(Darron Cummings/Associated Press)

Pode ser ignorância minha, mas não conheço ninguém que imaginava que o Indiana Pacers pudesse disputar uma vaga para os playoffs nesta temporada. Ao trocar Paul George por Victor Oladipo e Domantas Sabonis, a impressão que dava era que o time iria entrar em ‘modo repouso’ neste ano, buscar uma boa escolha de draft e tentar se reerguer nos próximos anos. Acontece que a franquia nunca faz este tipo de coisa. E este foi mais um campeonato que o Pacers juntou um time discreto mas bem montado e superou todas as expectativas.

Ter sido eliminado mostrando que era um time melhor do que o adversário pode parecer decepcionante. Nas condições que foi, não acho isso. Pela primeira vez na história um time levou Lebron James para um jogo 7 na primeira rodada dos playoffs. Se isso diz o quanto o Cleveland Cavaliers é limitado, também mostra o quanto o Indiana Pacers é um time legal – que só tem a melhorar daqui pra frente.

A começar pelo fato da franquia ter encontrado um novo ídolo. Do nada, Victor Oladipo se transformou em uma estrela. É um dos melhores defensores de toda a NBA e um dos shooting guards mais completos da atualidade. Apesar da oscilação nos playoffs, seu desempenho com a camisa azul e amarela fez a torcida esquecer Paul George.

Darren Collison teve uma excelente temporada também. Em uma liga com overdose de armadores, ter Collison parecia que era uma desvantagem brutal para o time. Não foi assim. Teve o melhor aproveitamento nos chutes de três de toda a liga, fez o dever de casa na organização do time e na defesa.

Bojan Bogdanovic se afirmou de vez na liga e Domantas Sabonis mostrou porque apostaram nele no draft do ano retrasado.

Hoje a gente mal lembra, mas a esmagadora maioria das previsões para a temporada colocavam o Indiana no mesmo bolo que Chicago Bulls e Atlanta Hawks na busca pelas primeiras posições do draft. Um erro brutal. O time nunca ‘tanka’. As vezes que foi mal, era porque o time era ruim de doer mesmo. As vezes que foi bem, raramente tinha um time super estrelado. Na maioria das vezes, o Indiana forma um elenco modesto, comedido, mas bem encaixado. Via de regra, é presença carimbada nos playoffs.

E por mais que o senso comum diga que ter um time ok e o mínimo de vontade de ganhar seja suficiente para se classificar aos playoffs no Leste – não é, vide Charlotte Hornets e Detroit Pistons -, o Indiana Pacers fez mais do que isso. Brigou pelo top3 da conferência. Ficou a duas vitórias de roubar o mando de quadra do Cleveland Cavaliers (atual tri finalista da liga!).

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Uma parte deste sucesso deve ser creditado também ao técnico Nate McMillan. Depois de um ano sem identidade, o time aprendeu a atacar sem perder o vigor defensivo. Se mostrou uma equipe equilibrada, que sabia jogar lento, sabia correr, sabia defender, atacar, chutar de longe, cair no post. Nada excepcionalmente bem, mas tudo dignamente – um talento raro na NBA de hoje.

O problema foi que o Cleveland tem Lebron James. E a presença dele garante algumas vitórias. No caso, garantiu quatro. O suficiente pro Cavs se classificar – suando, sangrando e sofrendo.

Mas o time do Indiana sai bem da série. Melhor que o próprio Cavaliers, que não tem a garantia de que Lebron continuará na equipe. O Pacers tem uma folha salarial enchuta pros padrões atuais da liga, vai se livrar do contrato de Al Jefferson pro ano que vem e terá espaço para buscar um free agent estrelar na próxima temporada.

Seus principais jogadores são jovens e estão em viés de alta. Tanto de valorização para negociações com outros times, quanto em desempenho. Um cenário bem positivo de reconstrução sem precisar passar pelo constrangimento de perder uns anos de propósito.

Quase deu. Fica para próxima – que, parece, será melhor do que a deste ano.