Michele Roberts, a mulher que lidera mais de 400 jogadores da NBA

Pedro Brodbeck

(Susan Walsh/AP)

Michele Roberts é uma das pessoas mais poderosas do basquete. A advogada de 62 anos é a diretora-executiva da National Basketball Players Association (NBPA), o órgão que funciona como o sindicato dos jogadores da NBA. Apesar da associação ser presidida por um jogador – atualmente Chris Paul -, é Michele que efetivamente senta na mesa de negociação com a liga para, de tempos em tempos, discutir a relação de trabalho, divisão dos lucros e mudanças nas regras pleiteadas pelos atletas. Ela é a única mulher nesta posição entre as quatro principais ligas de esportes dos EUA.

Em cinco anos liderando o sindicato, Michele teve um sucesso incomparável com seu antecessor, Billy Hunter. Ela rediscutiu o acordo coletivo com o chefe da NBA, Adam Silver, sem que fosse preciso parar as atividades da liga, como aconteceu em 1999 e 2011. Na oportunidade o diálogo entre os dois mandatários foi essencial para que o aperto de mãos acontecesse sem prejuízos a jogadores, executivos e, principalmente, fãs.

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Também conseguiu minimizar as perdas dos atletas perante os donos das franquias. Na discussão anterior, feita por Hunter e, na época, David Stern, antigo comissário da NBA, ficou decidido que os jogadores deixavam de ter 57% na participação total dos lucros para ter algo próximo de 50%. Michele reverteu este viés de queda e, ainda por cima, conseguiu colocar novos dividendos no bolo, além dos 3 bilhões anuais distribuídos pela televisão.

Foi sob o novo acordo discutido por Roberts que Timofey Mozgoz, Luol Deng, Allen Crabbe e algumas dezenas de jogadores meia-boca para os padrões da NBA passaram a ganham seus 15 milhões de dólares por ano de salário – se para o jogo isso parece desproporcional, confirma a capacidade da diretora do sindicato que se propõe a dar melhores condições e contratos aos jogadores da liga.

No evento em que foi eleita por mais de 110 jogadores para ser a comandante da associação deles, Michele apresentou suas credenciais para mostrar que não se intimidaria por negociar com a NBA, formada só por homens, com agentes, todos homens, e conversar com jogadores, também homens. Além de mostrar que tinha um currículo brutal – a ponto de ser descrita como a melhor advogada (a língua inglesa não diferencia o gênero, o que é pertinente neste caso) de Washington por uma publicação setorial local -, fechou o discurso dizendo que seu “passado estava cheio de ossos de homens que achavam que poderiam resolver as coisas a levando para a cama”. Um recado bem dado que convenceu a todos. Cinco anos depois, os jogadores devem ter a certeza que fizeram a escolha certa.

Em um mundo ainda absolutamente desigual, em que homens treinam times de mulheres, apitam jogos de mulheres, presidem associações de mulheres, Roberts é a esperança de que um dia as coisas mudem. E que as credenciais técnicas e a capacidade prática se tornem, de fato, os critérios decisivos para que as pessoas sejam reconhecidas.