Trocar todas as marcações não tem funcionado para o Cleveland Cavaliers

Pedro Brodbeck

(Kyle Terada-USA TODAY Sports)

A defesa que melhor funcionou contra o Golden State Warriors neste ano foi a do Houston Rockets. Ao longo da série que durou sete jogos, a tática do time texano foi clara: nenhum jogador ficaria ‘fixo’ marcando alguém em especial, o time teria que trocar toda marcação sempre que fosse necessário. Isto é, ao invés de Chris Paul batalhar para se desvencilhar do bloqueio de Kevin Durant para continuar marcando Stephen Curry e, na fração de segundos em que tenta contornar o corpo do rival, dar alguns centímetros de folga para que Curry chute ou passe a bola, Paul simplesmente trocava a marcação para defender Durant e o ala, sei lá, Trevor Ariza, passava a ser o marcador de Curry dali em diante.

A tática, em tese, tira os espaços dos chutadores e diminui o tempo livre que os jogadores de ataque têm para pensar. É uma defesa que exige muita comunicação para que não se abram espaços (o que aconteceu muitas vezes no confronto entre os dois times) e tem o ônus quase inevitável de criar confrontos individuais desequilibrados (os mismatches, de um jogador muito menor ter que marcar um cara alto no post ou um pivô ter que sair para marcar um armador no perímetro).

Apesar de algumas desvantagens, a defesa funcionou bem contra o Golden State Warriors. O Houston Rockets conseguiu mostrar uma marcação eficiente e levou o confronto até o último jogo contra o franco favorito ao título. Em uma tentativa ingênua de replicar o sucesso na série seguinte, o Cleveland Cavaliers resolveu emplacar a mesma marcação contra o atual campeão. O resultado, no entanto, não tem sido tão satisfatório.

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No jogo 2, o desastre de decidir trocar absolutamente todas as marcações (veja bem, não é trocar quando necessário ou em alguns momentos do jogo, como é bem uma tendência na NBA atual, mas trocar literalmente todas as marcações) ficou mais claro. Durant foi praticamente perfeito nos arremessos em que caiu contra JR Smith e George Hill e Stephen Curry e Klay Thompson fizeram a festa nas vezes em que Kevin Love sobrou para marcá-los. Na prática, o Golden State abriu dez pontos de vantagem logo de cara, se aproveitando dos espaços dentro do garrafão deixados pelo Cavs, e nunca mais foi seriamente ameaçado no placar.

O problema aqui é que essa troca frenética e agressiva na marcação é muito eficiente quando o time tem os jogadores adequados para tal ou quando a equipe trabalha em uma sintonia já muito bem afinada para que os reposicionamentos sejam feitos quase que intuitivamente. Nenhuma das duas situações é o caso do Cleveland.

Diferente do Houston Rockets, que tem um pivô na sua melhor fase, um armador ainda muito inteligente na defesa e dois alas especialistas na função, o Cleveland não tem no seu elenco jogadores tão versáteis para este tipo de marcação. George Hill pode ser bom (não tem sido tanto), Jeff Green é interessante, Lebron James e Larry Nance Jr idem e Tristan Thompson dá para o gasto. De resto, ninguém tem a menor aptidão para isso. JR Smith e Kevin Love até conseguem se sair bem guardando as suas posições, no homem a homem, mas são uma negação na hora de se antecipar para trocar a marcação. Korver sempre foi medonho (e até tem sido ‘menos ruim’ ultimamente, mas ainda muito aquém do necessário para o esquema). Jordan Clarkson, então, nem se fala.

Além disso, a defesa coletiva do Cavs é péssima. Não é um time bem ajustado, não parece se comunicar bem e não criou uma forma de se posicionar que seja eficiente – a ponto de ser a segunda pior defesa em número de pontos sofridos a cada 100 posses de bola da NBA no ano inteiro!

As intenções de Tyronn Lue ao reproduzir a defesa que deu certo contra o Golden State eram ótimas, mas a execução não tem sido das mais eficientes.

Escolher trocar só em alguns casos requer mais comunicação ainda, o que não parece ser um bom caminho para o Cleveland. Evitar as trocas também é arriscado. Contra o Indicana Pacers, por exemplo, funcionou a dobra para cima de Victor Oladipo depois do corta-luz. No entanto, o talento de Oladipo é bem menor do que o de Stephen Curry e a qualidade dos seus colegas que surgiriam livres também é incomparável.

Não é tarefa fácil. É por isso que times se montam pensando exclusivamente em formas de superar o Golden State. Só ficou claro que a tática defensiva do Cleveland nos dois primeiros jogos não tem sido eficiente e que agora é a hora tentar outra vamos.