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Evolução de Victor Oladipo dribla desconfiança no seu jogo e hype dos concorrentes

(Brian Spurlock-USA TODAY Sports)

Não é comum um jogador evoluir de verdade seu jogo quando já não é mais um garoto. Basta olhar o histórico do prêmio de Most Improved Player, que elege o atleta que teve o maior crescimento de produção em uma temporada, e notar que na maioria esmagadora das vezes o escolhido é um cara que era reserva, virou titular e ganhou muitos minutos de quadra (o que naturalmente o faz inflar as estatísticas) ou que está na fase de transição da adolescência para a vida adulta na NBA e também vai ter uma melhora espontânea no seu jogo. Mas virar uma estrela, carregar um time e repetir atuações heroicas ao longo da temporada de um ano para o outro sem estar em um dos dois grupos acima é coisa rara.

Depois de decepcionar por quatro temporadas no Orlando Magic e no Oklahoma City Thunder, Victor Oladipo é essa exceção que confirma a regra. O armador é o cestinha e líder de um surpreendente Indiana Pacers que atualmente ostenta a quarta colocação na conferência Leste, a frente de Milwaukee Bucks e Washington Wizards, times que pareciam muito mais favoritos do que a equipe de Indianápolis. O desempenho do Dipo é surpreendente a ponto de, hoje, ser um dos nomes mais fortes para, pasmem, ser até titular entre os armadores da conferência no All Star Game (a concorrência é pesada, mas ele está no páreo para a segunda vaga, atrás de Kyrie Irving, com John Wall, Demar Derozan, Kyle Lowry e Ben Simmons).

Nesta temporada, Oladipo tem registrado as melhores médias de pontos (nove a mais do que fez no ano passado), aproveitamento nos arremessos de dois e de três, rebotes, tocos e roubos de bola. Tudo isso nos mesmos 35 minutos jogados. Em resumo, ele nunca tinha sido tão eficiente e produtivo nos seus cinco anos de carreira.

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Não que ele fosse um fiasco até então, mas o jogador entrou na liga para ser este jogador que vemos hoje – e até o final da temporada não dava nenhum indício que iria se tornar este cara em algum momento. Em três anos no Orlando Magic, o que era para ser um projeto de Derrick Rose/Russell Westbrook, virou um troco na negociação que levou Serge Ibaka à franquia da Florida – a prova de que estava desvalorizado é que o Magic não hesitou em se desfazer de Ibaka quatro meses depois em outra troca.

A derrocada continuou no seu novo time, o Oklahoma City Thunder. Ao lado de Westbrook, Oladipo saiu do posto de alternativa ofensiva para quando Russell estivesse sofrendo marcação tripla para se tornar em um quase inútil nos playoffs. Seu desempenho pífio, ironicamente, ajudou Westbrook na caminhada rumo ao título de MVP, já que um dos argumentos para premiá-lo era a escassez de talento ao seu redor.

Calhou de ter renovado contrato justamente quando o limite salarial da liga explodiu e assinou uma extensão caríssima. Se tornou um dos contratos mais incômodos para uma franquia ter. Com isso, entrou no pacote do Thunder que foi trocado pelo ‘aluguel’ de Paul George – como suspeitava-se que PG13 estaria apalavrado com o Lakers para a próxima temporada, nenhum time queria dar algo valioso por um ano do seu basquete. O máximo que ofereceram ao Indiana foi um questionável pacote com Oladipo e Domantas Sabonis (outro que estava com uma performance aquém das expectativas).

Até era de se esperar que Victor melhorasse alguma coisa. O elenco do Pacers não é dos melhores e a bola certamente se concentraria na sua mão. Mas a exemplo do que mostrou nos anos anteriores, o natural seria um time cambaleando e um jogador oscilante. Mas os dois primeiros meses de temporada mostram um cenário muito melhor do que este. Além dos números excelentes, Oladipo tem decidido jogos e carregado a responsabilidade de um time que tem uma surpreendente campanha positiva. Hoje, até existe a conversa se o Pacers não ganhou a troca com o Thunder – os torcedores alegam, exageradamente, que em 1/4 de temporada, Oladipo já fez mais pelo time do que George. Verdade ou não, o simples fato de existir esta dúvida já é um baita feito para o Indiana e para o jogador.

Por mais que ainda tenha um punhado de jogos pela frente, Oladipo é um dos favoritos ao prêmio de MIP. Sua evolução é impressionante. Mais do que a de concorrentes naturais ao prêmio, como os badalados Kristaps Porzingis e D’Angelo Russell. Enquanto a dupla de Knicks e Nets tem a seu favor o hype de jogar em Nova York, de ter sido draftada recentemente por uma grande franquia e tudo mais, Victor tem a seu favor um basquete mais eficiente e vencedor.

Eu não vejo alguma explicação óbvia para isso. Oladipo sempre pareceu ter os requisitos físicos e técnicos necessários para ser um bom jogador, mas nunca ficou muito claro os motivos de não ter desencantado antes. Não acredito nesse papo de que está jogando em casa e agora se sente mais à vontade (ele jogou por três anos na universidade de Indiana, mas não é originalmente de lá, nem nada). Talvez o estilo de jogo mais corrido do Pacers nesta temporada aliado a um alívio na pressão tenha favorecido seu desempenho – é o que mais me convence. Mas o fato é que deu certo.

Sem dúvidas, a maior surpresa positiva da temporada até então.

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