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Sobre NBA e afins

Memphis demitiu seu técnico para nos lembrar que os jogadores mandam na NBA

(Nelson Chenault-USA TODAY Sports)

Não podemos nos deixaram enganar por uma temporada inteira, como a passada, sem técnicos demitidos. Muito menos pelo mito de que a NBA é profissional a ponto de não ter alguns dos péssimos vícios do esporte pelo mundo. Os treinadores dos times estão sujeitos ao humor de dirigentes que nem sempre são os mais inteligentes e e de jogadores quem muitas vezes só pensam no que é melhor para eles mesmos.

Ontem o Memphis Grizzlies surpreendeu o mundo da bola laranja e demitiu o técnico David Fizdale do comando da equipe. O desligamento aconteceu um dia depois de Marc Gasol, principal jogador da equipe, reclamar publicamente pela imprensa que ficou no banco de reservas no último quarto de partida. O espanhol não atacou diretamente o comandante do time, mas disse que não tem como ajudar se está fora de quadra e que isso é frustrante para um jogador. O treinador justificou que o time está despedaçado, estava perdendo e melhorou sem o pivô.

Eu entendo Gasol, acho que ele está certo em não gostar da situação, e entendo que a situação do time não era das melhores (perdeu 10 das últimas 12 partidas), mas, no fundo, a demissão é um claro sinal de que a liga é comandada pelos jogadores e o técnico que não entender isso vai ficar de fora da brincadeira. Os outros casos recentes de demissão comprovam que não é performance que determina o tempo de vida útil de um treinador, mas sim a sua capacidade de gerenciar os egos dos seus principais jogadores.

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Foi o mesmo que aconteceu com Kevin McHale quando se desentendeu com James Harden (a dupla tinha sido finalista do Oeste no ano anterior), com David Blatt ao ser demitido do Cleveland Cavaliers por não comandar o time da forma que Lebron James esperava (era finalista da NBA e tinha a melhor campanha da conferência) e com Earl Watson, há pouco, por ter azedado a relação com a molecada do elenco (esse tava mal mesmo, mas nada diferente do que a franquia previa, já que o objetivo é ter uma campanha pífia para pescar uma boa posição de draft no ano que vem).

Mais do que todos, teve a vez que o Utah Jazz abriu mão de Jerry Sloan, técnico do time há mais de 20 anos, 18 delas indo aos playoffs, para tentar segurar Deron Williams, seu desafeto, que estava em final de contrato. O resultado foi catastrófico: Sloan saiu brigado, o substituto afundou o time numa campanha de 8 vitórias e 20 derrotas e Deron Williams foi trocado alguns dias depois já que seu contrato se encaminhava para o final e ele sinalizava que poderia sair do time sem dar nada em troca.

Não que Fizdale seja um cara de capacidade incontestável e futuro garantidamente brilhante, mas o jovem treinador era uma aposta alta da franquia. Além do mais a equipe vem mais uma vez detonada por lesões. Ano passado ele já conseguiu mostrar algum talento levando o time aos playoffs mesmo com apenas três jogadores do elenco todo tendo jogado mais de 72 partidas (nenhum jogou todas) e resistindo de alguma forma diante do San Antonio Spurs na primeira rodada do mata-mata.

No caso específico do jogo de anteontem, o time melhorou sem Gasol. Com o espanhol em quadra, perdeu por 17 pontos. No último quarto, sem ele, ganhou por quatro. Claro que é questionável abrir mão do seu melhor jogador no momento mais decisivo da partida, mas não dá pra dizer que o teste não era válido e que, em alguma medida, não tenha dado certo.

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Mas a demissão é simbólica para reforçar o poder que os jogadores têm em seus times.

Eu concordo que são os atletas que efetivamente ganham os jogos, que fazem a coisa acontecer. Que o talento deles em quadra é o maior ativo que um time pode ter – um técnico bom em uma equipe ruim até pode ir bem (Erik Spoelstra ajeitando o Miami Heat do ano passado é um exemplo), mas uma equipe forte com um técnico fraco ainda tem chances consideráveis de ir muito mais longe (como o Cleveland Cavaliers campeão com o questionável Ty Lue no banco de reservas). São escolhas compreensíveis.

Mas não nos deixemos enganar por esse papo de que os técnicos lideram as equipes, são os comandantes dos elencos e etc. Que a NBA privilegia o planejamento, que as decisões são ultraprofissionais sempre. A regra não é essa. A NBA é uma liga dos jogadores e eles que, fundamentalmente, definem os rumos dos seus times.

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