Bandeirinha desabafa contra machismo: 'Não responder me mata por dentro'

Assistente em partidas de categorias juvenis, Eva Alcaide, de 17 anos, quis desabafar contra 'sociedade de m***a que estamos criando'

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Árbitra assistente de partidas de categorias de base na Espanha, Eva Alcaide, de 17 anos, é mais uma mulher a sofrer com o machismo no futebol. No último domingo, 3, ela não aguentou os insultos que sofrera na última partida que trabalhou e fez um desabafo em sua conta no Twitter. 

Na rede social, Eva relatou ter ouvido ofensas sexistas, se sentindo "acuada e inclusive com medo do que poderia acontecer depois". "Tive que aguentar tudo o que estava ouvindo - e não era pouca coisa - e não poder responder é algo que me mata por dentro", contou. 

Rapidamente, o desabafo dela ganhou grande repercussão no Twitter. Até a publicação da nota, o primeiro tweet já tinha 18,5 mil retweets e 1,2 mil respostas, em sua maioria de apoio e repúdio às ofensas. 

 

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Confira na íntegra o desabafo de Eva Alcaide

"Hoje fui assistente de uma partida de juvenis e, bem, quero contar o que passou e como tenho me sentido e, fazendo isso, simplesmente para desabafar e para que vejam a sociedade de merda que estamos criando. Bem, aqui vou eu. 

Simplesmente havia um grupo de jovens na grade que não fizeam outra coisa do que ficar os 45 minutos do primeiro tempo me dizendo coisas, soltando pérolas bastante fortes que chegou um determinado momento em que me senti acuada, inclusive com medo do que poderia acontecer depois. Ter que ficar aguentando o que escutei - que não são poucas coisas - e não poder responder é algo que me matava por dentro. Há comentários e comentários, mas o que escutei e sentido hoje permanece. 

Pérolas como 'minha mãe, que bunda', 'a pegava pelo cabelo e punha de 4', 'fazia de tudo', 'transava e enfiava a bandeirinha pela bunda até sair pela boca', 'minha mãe, que cara de cachorra e que sabe transar'. 

Continuo porque tenho bastante: 'enquanto tomar banho no vestiário, espero que não deixe cair o xampu porque vou aparecer atrás', 'é virgem?', 'se for lésbica, me inclui', 'que calcinha pequena', 'vou ter que saltar no campo', e um enorme etcétera, que poderia seguir colocando mais barbaridades que escutei, mas creio e que com isso já podem ter uma ideia. 

Quero que de verdade pensem e repensem se de verdade o feminismo é necessário porque se isso não ofensivo, o que é?

Realmente sigo alucinando quando vejo que há gente ainda usando o termo 'feminazi', mas, na verdade, se nunca viveu algo assim - algo que todas as mulheres vivemos alguma vez em nossa vida - é 'normal', que acha que não há nada, até passar porque, surpresa, as coisas acontecem sim, assim sem mais, besteira atrás de besteira. 

Não é normal nem justo que eu vá fazer uma coisa que gosto e pela qual sou apaixonada e tenha que escutar comentários como esses em meu 'ofício'. O melhor de tudo é que os garotos não tinham mais do que 17 anos, inclusive com alguns de 13, 14 anos, que planejaram e tentaram até me ofenderem internamente. E agora me dizem que nós gostamos muito de exagerar as coisas ao máximo, porque ao fim e a cabo somos feminazis. 

Me senti totalmente acuada e incomodada em um campo de futebol, onde se supõe que vou me divertir tanto como os jogadores e/ou pais e espectadores - e prefiro não entrar no tema dos pais porque isso daria outro desabafo. 

O tema é que estou muito revoltada e quero que abram os olhos e se deem conta da sociedade de merda que estamos criando, que EDUQUEM seus filhos, que abram os olhos, tanto os seus como os dos que estão ao seu redor. 

Isso acontece comigo hoje e o conto por aqui, mas amanhã acontece com uma menina que fica calada e logo as coisas passam. Não somos conscientes dos monstros que estamos criando. Por favor, o feminismo é TOTALMENTE NECESSÁRIO. 

Termino o desabafo porque não quero entrar em mais detalhes. Acho que informei o suficiente e não quero falar mais sobre o tema porque, sinceramente, agora mesmo não me encontro bem. Só queria conscientizá-los do que presenciei hoje, e creio que já o fiz. 

Estou farta de sofrer essas merdas simplesmente por ser mulher, e estar em um mundinho de tios como é o futebol e a arbitragem. Me sinto muito dolorida às vezes. Hoje quis gritar e desabafar por todas as vezes que fiquei calada. Sem mais."

 

 

 

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