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8 ou 24: qual dos números da camisa de Kobe Bryant é mais ‘pesado’?

(Geoff Burke/USA TODAY Sports)

Pela primeira vez na história da NBA um time vai aposentar dois números usados pelo mesmo jogador. Kobe Bryant, um dos maiores jogadores de todos os tempos, terá a honra de ver suas camisas 8 e 24 eternizadas no teto do Staples Center, em Los Angeles, fazendo com que nenhum outro jogador da franquia possa usá-los para o resto da eternidade. A cerimônia acontece nesta madrugada, às 1h30 já de terça-feira, na partida contra o Golden State Warriors.

A homenagem faz todo o sentido. Kobe foi o atleta que mais vezes vestiu a camisa do Lakers em todos os tempos, o que mais minutos jogou, o que fez mais cestas e que ganhou mais títulos (empatado com outras lendas da franquia que também têm suas camisas aposentadas). Como praticamente dividiu sua carreira em duas partes e usou um número diferente em casa uma delas, é natural que os dois sejam imortalizados. Fôssemos contar separadamente a carreira dele com cada um dos números, Kobe da camisa 8 ainda seria top 10 da história do time em pontos, minutos e cestas, assim como o Kobe da camisa 24.

Mas diante do ineditismo do fato, é inevitável comparar as duas metades e tentar chegar a uma conclusão de, se fosse preciso escolher apenas um dos números, qual deles foi mais representativo para a carreira do jogador.

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Nos números, ambos são muito semelhantes – do jeito que Kobe Bryant é maluco, é até de se suspeitar que foi tudo milimetricamente calculado. Foram 10 anos usando o 8 e outros 10 usando o 24. Fez 16 mil e poucos pontos com cada um deles.

Eu, particularmente, associo mais Kobe Bryant à sua primeira camisa. Foi nessa época que me encantei pelo Lakers e que comecei a torcer pela franquia. Apesar de hoje ter plena consciência que Shaquille O’neal era o melhor jogador daquela equipe, na época o meu grande ídolo era Bryant. Minha primeira camisa da NBA foi uma roxa #8 daquele cara que ainda era uma jovem revelação, um projeto de Michael Jordan.

Foi nesta época que Kobe venceu três títulos em sequência, na maior dinastia da NBA dos últimos 20 anos – o único tricampeonato seguido desde o Chicago Bulls de Jordan e Scottie Pippen.

Usando a camisa 8 que ele anotou os insanos 81 pontos contra o Toronto Raptors, segunda maior marca individual de um jogador em todos os tempos. Foi com essa camisa que o mundo conheceu o jogador, o que, pra mim, é o grande argumento para exemplificar o peso desta camisa.

No entanto, admito que, tirando o aspecto afetivo que eu tenho com a 8, a camisa 24 talvez seja mais importante para Bryant como craque imortal do Lakers.

No fundo, era essa a camisa que Kobe queria usar desde que chegou na NBA. Só não o fez porque na época que se profissionalizou, já tinha um jogador no elenco angelino usando a 24 , o inexpressivo George McCloud, que saiu do time na temporada seguinte. Kobe, porém, não podia logo de cara solicitar a mudança de número, já no seu segundo ano como profissional. A NBA tem uma regra que exige que um jogador mantenha seu primeiro número escolhido por pelo menos quatro temporadas antes de qualquer mudança, caso fique no mesmo time por todo esse período – por isso Paul George e Amare Stoudemire, por exemplo, demoraram alguns anos para mudar seus números nas camisas também.

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O número 24 também significou a guinada na carreira de Bryant – dentro e fora das quadras. Foi com ela que assumiu o protagonismo do time depois da troca de Shaq, que se desvencilhou das críticas que só conseguiria ganhar um título jogando ao lado de um dos melhores de todos os tempos, que ganhou seu prêmio de MVP em 2008 e que foi duas vezes considerado o melhor jogador das finais – nas duas vezes que foi campeão com a nova camisa.

Também há o aspecto não muito glamouroso da troca, mas que é importante: em determinado momento da sua carreira, Kobe foi acusado de estupro por uma jovem que trabalhava em um spa onde Bryant se hospedou. As audiências se desenrolaram por quase um ano inteiro, destroçando a imagem do jogador, até que ele e a vítima chegaram a um acordo para encerrar o caso. Para tentar reerguer a carreira, passar uma borracha no passado infame e tentar salvar sua imagem comercialmente, Kobe mudou o número da camisa e criou esse negócio de Black Mamba, #mambamentality e tudo mais. Tanto deu certo que pouca gente lembra que essa persona foi mais uma criação de marketing do que um apelido que surgiu naturalmente.

Em todo caso, foi com a 24 que Kobe se reafirmou como este jogador frio e capaz de carregar uma franquia enorme nas costas. Foi com ela que se aposentou fazendo 60 pontos. Mesmo que eu prefira a primeira, acho que a matemática e a história não falham: 24 é maior do que 8.

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