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Não será fácil para o Hornets trocar Kemba Walker nas condições que quer

(Shanna Lockwood, USA TODAY Sports)

Deveria ser fácil encontrar um time que queira Kemba Walker: o jogador tem números de all star, resolve jogos, carrega há anos uma franquia nas costas, está no auge da forma física e técnica e, além de tudo, ganha um salário bem abaixo do seu valor atual de mercado. A dinâmica do ‘bom, bonito e barato’ seria óbvia pra negociação se, ao avisar toda a liga que está disposto a trocar sua principal estrela, o Charlotte Hornets não estivesse afim de, junto com Kembra, se livrar de alguns dos piores contratos existentes na NBA de hoje. Na verdade, nas condições que exige, a troca de Walker é um quebra-cabeça bem difícil de ser resolvido.

A ideia da franquia é oferecer um baita jogador com um contrato excelente para, ao mesmo tempo, limpar a folha salarial despachando algum outro jogador. Quem tiver o bônus de conseguir Kembra por uma pechincha, teria que sair com o ônus de levar uma das buchas que o time tem no elenco. São eles: Dwight Howard (23,5 milhões por essa e pela próxima temporada, cada), Nicolas Batum (quatro anos de contrato, ganhando 22 milhões agora e subindo gradativamente até chegar a 27 milhões em 2021), Marvin Williams (média de 14 milhões ao ano por três temporadas), Michael Kidd Gilchrist (13 milhões ao ano até 2020) e Cody Zeller (quatro anos de contrato, começando com 12,5 milhões nesta temporada até 15,4 milhões em 2021).

Para se ter uma ideia, Kemba Walker, o melhor disparado do time, ganha menos do que todos eles (12 milhões nesta temporada e outros 12 milhões na próxima). Da NBA em geral, Joe Ingles (Jazz), JR Smith (Cavs), Robin Lopez (Bulls), Brandon Knight (Suns), Timofey Mozgov (Nets), Kent Bazemore (Hawks), Wesley Matthews (Mavericks), Joakim Noah (Knicks) ganham mais e jogam muito menos do que ele. Hassan Whiteside (Heat), Chandler Parsons (Grizzlies), Jrue Holiday (Pelicans) e Brook Lopez (Lakers) ganham o dobro que ele.

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Mesmo sendo um negócio de outro mundo pegar Kemba, muitos times não devem se interessar em pegar um contrato péssimo junto no pacote. E os que se interessariam, talvez não tenham muito o que dar em troca, o que torna bem complicada a negociação. Como a NBA vive uma lógica de limite salarial, a menos que algum time esteja muito abaixo deste limite – o que é bem raro -, o troco envolvido no negócio teria que ter um valor similar de contratos. Ao abrir mão do seu melhor jogador, o Hornets deixa claro que parte para uma reconstrução da franquia, ou seja, vai aceitar no bolo jogadores muito jovens, escolhas de drafts ou, na pior das hipóteses, contratos altos mas expirantes, ou seja, que terminem na próxima temporada e desobstruam a folha salarial do time.

Aí que está o problema. É quase impossível achar um negócio que faça sentido somando todas estas condicionantes. Em um exemplo hipotético, o time perfeito para o negócio teria alguma escolha boa de draft para o próximo ano, estaria precisando de um armador titular, acharia que com Kemba Walker suas chances imediatas de sucesso cresceriam substancialmente e ainda poderia absorver algum contrato ruim, mandando um expirante em troca.

Só aí, já é possível descartar logo de cara Golden State Warriors, Houston Rockets, Boston Celtics, Oklahoma City Thunder, Washington Wizards, Toronto Raptors, Milwaukee Bucks e Portland Trail Blazers que, apesar de serem times interessados em pegar um jogador da qualidade de Kemba, ou tem armadores ainda melhores do que ele, com contratos mais longos, com papéis mais centrais nas rotações e, ainda por cima, geralmente não tem boas escolhas de draft para dar em troca. Sacramento Kings, Dallas Mavericks, Los Angeles Lakers, Brooklyn Nets e Atlanta Hawks são times em reconstrução, já têm armadores novos e promissores e não querem se livrar das suas escolhas de draft, nem acumular salários altos e longos. Ou seja, é muito improvável que essa metade da liga tente alguma coisa com o Hornets.

Dos que sobram, não vejo Chicago Bulls e Philadelphia 76ers se arriscando em um negócio desses. Memphis Grizzlies e Orlando Magic também acho que não tem condições de sequer pensar, seja por já terem jogadores pra posição, por não terem boas moedas de troca ou estarem engessados com o atual elenco. Acho que o New Orleans Pelicans até teria bastante interesse, mas consegue ter contratos ainda piores no elenco, o que inviabiliza as propostas.

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Basicamente sobram 11 times com alguma possibilidade de negociar com alguma possibilidade de sucesso de efetivar a troca. Mesmo assim, acho improvável que Detroit Pistons envolva Tobias Harris e Avery Bradley em uma conversa – e sem eles, não vejo nenhum negócio saindo ali -, assim como não não imagino o San Antonio Spurs quebrando o pacto de lealdade com Tony Parker neste ponto da carreira dele (e sem o contrato expirante do francês, não tem como fechar a troca). New York Knicks até poderia mandar Kanter, com um salário alto que se encerra ao final do ano, e alguma escolha de draft, mas não vejo muita disposição em pegar mais um contrato gigante para ocupar a folha salarial junto com Noah. Já o Miami Heat teria interesse, mas não tem contratos curtos para mandar em troca.

Com alguma possibilidade mais real, mas ainda com pouca probabilidade vejo Minnesota Timberwolves e Cleveland Cavaliers. O talento de Walker cairia bem nos três, cada um tem algo a oferecer em troca (salários no fim ou escolhas de draft), mas não sei o quanto Wolves e Cavs estariam dispostos a mexer na química dos times e nas suas rotações para encaixar Walker na rotação.

Nisso, sobram cinco times. O Los Angeles Clippers, que quer vencer já e está no mercado, mas que não tem muitos contratos para oferecer, nenhuma escolha de draft decente e ainda precisaria envolver Lou Williams, melhor surpresa da equipe, no bolo. O Denver Nuggets, que até tem bons contratos para trocar, mas tem um núcleo muito jovem e promissor na armação e não tem escolhas de draft também.

O Utah Jazz, com uma condição razoavelmente mais favorável, já que tem mais de 30 milhões em contratos se encerrando ao final do ano (Joe Johnson, Jonas Jerebko e Derrick Favors, além de outros jogadores de menor relevância). Os problemas a se contornar seriam a falta de boas escolhas de draft e a necessidade de reordenar a armação com Kemba e Ricky Rubio. Mas dá para fazer. O Indiana Pacers tem uma possibilidade parecida, sem escolhas de draft, mas com quase 60 milhões vencendo entre esta temporada e a próxima. Ou o Phoenix Suns, que tem uma porrada de escolhas de draft, 50 milhões em contratos acabando até 2019, mas sem a certeza se um jogador de 27 anos interessa tanto ao time – já que há pouco se desfizeram de Eric Bledsoe.

Por isso tudo, será difícil encaixar Kemba em um negócio. Uma dificuldade incomum para um jogador deste quilate.

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